Maioria das menções a depoimento de Bolsonaro nas redes é negativa e enfraquece discurso de perseguição
Consultoria aponta que 65% das publicações no X criticaram o ex-presidente; aliados tentam sustentar narrativa, mas recuos de Bolsonaro dificultam defesa
247 - O depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (10), gerou forte repercussão nas redes sociais e dominou as discussões no X (antigo Twitter). Segundo levantamento da consultoria Arquimedes, encomendado por O Globo, 65% das menções ao ex-presidente tiveram teor negativo, apesar da tentativa de seus apoiadores em sustentar a narrativa de "perseguição".
No total, foram registradas aproximadamente 350 mil menções a Bolsonaro, um número expressivamente superior às 250 mil publicações sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no mesmo período. Do volume de interações envolvendo Bolsonaro, apenas 14% foram positivas, enquanto o restante se manteve em tom neutro, com destaque para memes e trechos viralizados de sua oitiva no STF.
A ironia foi o tom dominante nas redes. Um dos momentos mais compartilhados ocorreu quando Bolsonaro, durante o depoimento, recuou de acusações feitas anteriormente contra ministros do Supremo e pediu desculpas. “Não tenho indício nenhum, senhor ministro. Era uma reunião para não ser gravada, foi um desabafo, uma retórica que usei. Então, me desculpe. Não tive intenção de acusar de desvio de conduta os três ministros”, afirmou o ex-presidente.
A fala fez referência a uma reunião ministerial de julho de 2022, quando Bolsonaro sugeriu que os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso teriam recebido propina para favorecer a segurança das urnas eletrônicas e fraudar as eleições. No depoimento desta terça, contudo, ele negou possuir qualquer prova dessas acusações.
Entre os opositores, as críticas dominaram o discurso. A deputada Maria do Rosário (PT-RS) ironizou nas redes com um meme parodiando rótulos alimentares, escrito: “Alto em chances de ser preso”. Em outra publicação, declarou: “Bolsonaro está no banco dos réus! Pronta para assistir à queda dos golpistas”. Já a bancada do PT na Câmara divulgou um vídeo em que parlamentares acompanhavam a audiência, com a fala do deputado Lindbergh Farias (PT-RJ): “Esse cara que construiu a trama golpista será condenado e preso em alguns dias”.
Na base bolsonarista, o esforço foi para manter o discurso de apoio e denunciar uma suposta perseguição. O Partido Liberal (PL) publicou nota exaltando Bolsonaro: “Nosso presidente Jair Bolsonaro nunca esteve sozinho. Chegou onde chegou pela fé, pela coragem e pelo apoio de milhões de brasileiros”. O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), reforçou: “Força, Presidente! O Brasil sabe quem o senhor é. [...] Não vamos nos calar!”
O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por sua vez, concentrou-se em defender a tese de vulnerabilidades no sistema eleitoral. Citou relatórios que apontariam falhas nas urnas eletrônicas e relembrou auditorias anteriores, como a realizada pelo PSDB em 2014. “As urnas têm vulnerabilidades e é preciso aperfeiçoar o sistema eleitoral”, escreveu. Eduardo também internacionalizou sua defesa, publicando mensagens em inglês e destacando o depoimento de Mauro Cid, que isentou seu pai de ter assinado a chamada "minuta do golpe".
Para o pesquisador Pedro Bruzzi, da consultoria Arquimedes, o comportamento adotado por Bolsonaro durante o depoimento acabou desmobilizando parte de sua base mais fiel. Segundo ele, ao recuar em declarações anteriores e classificar de “malucos” os envolvidos nos atos de 8 de janeiro, o ex-presidente dificultou a defesa de seus apoiadores. “A maioria das manifestações foi negativa porque ele dificultou a vida de quem estava disposto a defendê-lo. Embora tenha reiterado sua defesa do voto impresso, voltou atrás em algumas declarações e acabou expondo seus apoiadores, que agora têm mais dificuldade em sustentá-lo. Imagine uma senhora que pediu o AI-5 em Copacabana vendo isso”, avaliou Bruzzi.
A audiência ocorreu no âmbito da Ação Penal 2668, na qual Bolsonaro e outros sete réus são acusados de articular uma tentativa de golpe para impedir a posse de Lula após a derrota nas eleições de 2022. O pico de postagens nas redes foi registrado entre 16h e 18h, durante o depoimento do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, agora réu colaborador e uma das peças-chave da investigação.
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