Governo federal se prepara para deportação em massa dos EUA e elabora plano de acolhimento emergencial
Governo Lula teme agravamento da crise migratória e articula ações com prefeituras, estados e organismos internacionais para receber brasileiros
247 - Diante de um cenário cada vez mais crítico, o governo brasileiro já se prepara para enfrentar um fluxo sem precedentes de deportações de seus cidadãos que vivem nos Estados Unidos. A situação foi revelada em reportagem de Jamil Chade, colunista do UOL. Segundo autoridades brasileiras, as prisões e expulsões de imigrantes devem se intensificar nos próximos meses, levando o Palácio do Planalto a trabalhar na formulação de uma política emergencial de acolhimento.
Em entrevista ao jornalista, a ministra de Direitos Humanos, Macaé Evaristo, não escondeu a preocupação com a escalada do problema. "De nossa parte, estamos trabalhando em uma política de acolhimento. É uma situação difícil", afirmou. "Esse tema não existia em nossa agenda e teremos de enfrentá-lo", acrescentou. Estima-se que, dos aproximadamente 5 milhões de brasileiros vivendo no exterior, 2 milhões estejam nos EUA. Desses, entre 230 mil e 300 mil estão em situação irregular, sendo que cerca de 30 mil já possuem ordens de deportação.
Nos últimos dias, a ministra esteve nos Estados Unidos, onde se reuniu com membros da comunidade brasileira e representantes consulares em Nova York. Nas conversas, presenciadas, Evaristo ouviu relatos angustiantes de entidades que acompanham o drama de famílias em risco de separação, além de receber propostas sobre medidas de apoio que poderiam ser implementadas pelo governo brasileiro.
Entre as primeiras ações planejadas, destaca-se a emissão de certidões de nascimento para filhos de brasileiros, um gargalo que tem exposto crianças à possibilidade de ficarem apátridas. "Isso pode ter consequências gravíssimas", alertou a ministra. Em alguns consulados, o tempo de espera para o registro chega a quatro meses. Em comparação, antes da ofensiva migratória no governo Trump, alguns postos consulares faziam cerca de 50 registros por mês. Hoje, chegam a emitir 500 certidões mensais.
Outra prioridade é o reforço do quadro de funcionários nos consulados, atualmente insuficiente para lidar com a crescente demanda. Segundo Evaristo, não havia previsão orçamentária para esse cenário, e o governo estuda redirecionar parte das taxas consulares para fortalecer as unidades no exterior.
O Ministério dos Direitos Humanos também está em articulação com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), visando estruturar a recepção dos brasileiros deportados. Inicialmente, a Força Aérea Brasileira (FAB) tem sido utilizada para interiorizar os deportados que chegam a Manaus, mas o objetivo é transformar essa operação pontual em um programa sistemático, com apoio da OIM.
O governo quer ainda garantir o o das famílias aos serviços públicos no Brasil. "Estamos organizando para que as crianças possam ser inscritas em escolas, que as famílias tenham o ao SUS e que haja apoio jurídico", detalhou a ministra. Muitos deportados, segundo ela, são forçados a abandonar todos os seus bens nos EUA. "Tudo que elas tinham ficou nos EUA", lamentou Evaristo, destacando o trabalho conjunto com a Defensoria Pública da União para tentar recuperar patrimônios perdidos.
A expectativa de agravamento da crise migratória é alimentada por dados recentes coletados por diplomatas brasileiros. Os EUA ampliaram acordos com mais de 600 condados para permitir que xerifes locais também possam deter imigrantes, além de terem inaugurado dezenas de novos centros de detenção — de 49, no início de 2025, para 112 atualmente. Paralelamente, o governo americano negocia a contratação de empresas aéreas para aumentar o número de voos de deportação. Hoje, o número de detenções diárias gira em torno de 1.500 pessoas, limitado apenas pela falta de espaço físico.
"Precisamos nos preparar", afirmou Macaé Evaristo. "Agora precisamos avançar, desenhando uma política. Os números são muito grandes", justificou. Segundo a ministra, o governo já iniciou conversas com prefeituras e governos estaduais para criar uma rede de apoio capaz de absorver o impacto dessa nova realidade.
Apesar das pressões internas, o governo brasileiro adota cautela nas negociações com Washington, temendo retaliações que possam agravar ainda mais a situação dos imigrantes. Entre os riscos avaliados estão a transferência de brasileiros para prisões em El Salvador ou até mesmo para a base militar de Guantánamo. "Se sobe o tom, colocamos em risco os brasileiros", ponderou Evaristo. "Toda vez que tomamos uma medida, precisamos ter a cautela de pensar nas consequências. Precisamos ter muita responsabilidade."
Ainda assim, a ministra ite que o volume de informações recebidas sobre violações tem sido alarmante. "Estamos nos organizando para ter políticas de longo prazo", garantiu.
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