Triângulo dourado da Ásia redefine a geoeconomia mundial, diz Pepe Escobar
Triângulo dourado da Ásia redefine a geoeconomia mundial, diz Pepe Escobar
247 – O jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar afirmou que a aliança entre China, países do Sudeste Asiático e do Golfo Pérsico está “redefinindo a geoeconomia mundial”. A avaliação foi feita em seu programa Pepe Café, no YouTube, no qual ele relatou os desdobramentos da recente cúpula realizada em Kuala Lumpur, na Malásia. O encontro reuniu representantes da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), da China e do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), marcando o fortalecimento de um novo eixo que já vem sendo chamado regionalmente de “Triângulo Dourado da Ásia”.
Segundo Escobar, trata-se de uma aliança histórica, com potencial transformador no sistema internacional: “Estamos falando de uma história milenar que agora está sendo retomada no século XXI”, afirmou. O volume de transações comerciais entre os três blocos já ultraa os 900 bilhões de dólares e deve romper a marca de 1 trilhão ainda em 2025. “O comércio entre eles já é muito mais importante do que o comércio de cada um deles, inclusive de todos eles juntos com os Estados Unidos”, ressaltou.
Nova ordem econômica: o adeus ao dólar
Entre os aspectos mais relevantes do encontro, Escobar destacou o avanço das transações comerciais em moedas locais. “Todas as transações comerciais entre China e Indonésia vão ser em Yuan e Rupia. Bye bye dólar”, disse. A medida segue a tendência de desdolarização encampada por diversos países dos BRICS e representa, segundo o analista, uma mudança concreta na arquitetura financeira global. Ele explicou que essa política faz parte de um “laboratório de testes dos BRICS”, que busca consolidar o comércio multilateral com base nas moedas dos próprios países envolvidos.
ASEAN no centro da integração
Outro destaque foi a reafirmação da centralidade da ASEAN como eixo da integração econômica e diplomática na Ásia. “Todos os 10 países da ASEAN têm a China como seu principal parceiro comercial”, afirmou Escobar. Ele também ressaltou o papel crescente dos investimentos dos países do Golfo na região, sobretudo Arábia Saudita, Emirados Árabes e Qatar, e o papel estratégico da Malásia como ponto de convergência entre as diásporas chinesa, indiana e malaia.
A cúpula em Kuala Lumpur, segundo ele, representa a consolidação de um bloco formado por “riquezas naturais, capacidade de manufatura e um enorme mercado consumidor”. Para Escobar, é o símbolo mais recente da ascensão do Sul Global, que se articula cada vez mais à margem das estruturas ocidentais dominadas pelos Estados Unidos e Europa.
Ignorado pela mídia ocidental
Escobar criticou o silêncio da mídia ocidental sobre a cúpula: “Nos Estados Unidos e na Europa, é praticamente invisível o que aconteceu no começo dessa semana na Malásia”. No entanto, no Oriente, o tema dominou o noticiário, dada sua importância estratégica e econômica. “Essa é a coalizão auspiciosa do Sul Global, centrada no desenvolvimento sustentável e na construção gradual de um mundo multipolar”, afirmou.
Segundo ele, a declaração final da cúpula cita diretamente a Iniciativa Cinturão e Rota da China e denuncia os impactos da guerra tarifária imposta pelos Estados Unidos à região. “Eles estão ando por cima disso, com uma deliberação que leva em consideração o que se chama aqui de ‘centralidade da ASEAN’”, disse.
Antecipação dos BRICS no Rio
Escobar ainda ressaltou que muitos dos países presentes na cúpula estarão também na próxima reunião dos BRICS, marcada para julho no Rio de Janeiro. “É como se a cúpula em Kuala Lumpur tivesse antecipado as grandes discussões dos BRICS”, afirmou. Entre os participantes em comum estão China e Indonésia, dois dos atores centrais da nova ordem econômica global.
Guerra infinita e retórica perigosa
No mesmo programa, Escobar abordou o cenário internacional sob a ótica da guerra na Ucrânia. Ele criticou a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que chamou o presidente russo Vladimir Putin de “louco”, afirmando que isso inviabiliza qualquer possibilidade séria de cessar-fogo. “Esse meme – ‘Putin é louco’ – será repetido por diversos vetores do Ocidente e servirá para justificar novas ações militares”, alertou.
Escobar avaliou que o comportamento errático de Trump pode minar as negociações em curso: “Ele está preso à própria retórica, aos seus chiliques de menino mimado e à sua falta de pensamento estratégico”. Para ele, a guerra na Ucrânia, antes atribuída aos democratas, “agora é uma guerra de Donald Trump”.
Realidade contra o reality show
Encerrando sua análise, Escobar contrapôs os avanços no diálogo sul-sul, representados pelo “Triângulo Dourado da Ásia”, ao que chamou de “estrionismo, volatilidade e demência narrativa do Ocidente”. Segundo ele, o contraste entre as duas realidades é nítido: enquanto a Ásia constrói novas rotas de integração, o Ocidente mergulha em narrativas instáveis e guerras sem fim.
“Essa é a derrota estratégica do império e do Ocidente coletivo frente à Rússia, no solo negro da Novorússia. Isso é a realidade. Reality show é o que vende em Washington”, concluiu. Assista:
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