'Golpistas revelam o fundo do poço da classe dominante brasileira', diz José Genoino

247 - Em entrevista concedida à TV 247, o ex-deputado federal e ex-presidente do PT José Genoino traçou um diagnóstico contundente sobre os bastidores da tentativa de golpe de Estado articulada no governo de Jair Bolsonaro (PL). Para ele, a trama revela a degradação das instituições brasileiras e escancara a conivência de setores da elite nacional com a extrema direita. “Esses fatos revelam o fundo do poço da classe dominante brasileira”, afirmou.

Ao comentar os desdobramentos da investigação sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, Genoino criticou duramente a banalização do debate político e a instrumentalização das instituições por parte de Bolsonaro e seus aliados. “A que ponto esse pessoal colocou as instituições, o país, Forças Armadas, Congresso Nacional, Presidência da República a serviço de uma aventura, aventura golpista, de total descalabro”, declarou.

Segundo ele, os conspiradores trataram temas sensíveis da vida nacional com desdém. “Se conversava sobre esses assuntos como um assunto de bar. O presidente da República articulando no Palácio e fora do Palácio. Acampamentos… Veja bem a que ponto essa extrema direita chegou”.

Genoino destacou a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), à frente das investigações. Para ele, o trabalho conduzido pelo magistrado expôs a natureza irresponsável e criminosa da articulação: “está mais do que provado, pela denúncia, pela competência do ministro Alexandre de Moraes, que conduziu com muita competência e sobriedade os interrogatórios, como esse pessoal é inescrupuloso, não tem limite, não tem vergonha do que articulava”.

O ex-parlamentar também chamou atenção para a presença de oficiais de alta patente no núcleo da conspiração. “Ajudante de ordens com general quatro estrelas, com ministro da Defesa, com Palácio do Planalto, assessor… Eles transformaram os assuntos de Estado em uma coisa totalmente banal, inescrupulosa, de brincar com as instituições. Olha o risco que nós corremos”.

Para Genoino, há uma tentativa desesperada dos envolvidos em se desvincular da trama, mesmo sem negar sua existência. “Eles não negam a intentona [golpista]. Ninguém ali nega a intentona do 8 de janeiro e os fatos que precederam a intentona. O que está se buscando é cada um livrar sua cara. Ali se estabeleceu o salve-se quem puder. O baixo clero está na cadeia. Quase 400 já foram condenados”.

A principal preocupação do ex-presidente do PT, no entanto, recai sobre a resiliência eleitoral do bolsonarismo e a normalização do discurso autoritário entre lideranças políticas regionais. “O que mais me preocupa é esse cara [Jair Bolsonaro], que fez parte dessa tramóia, dessa intentona, ter a aceitação que tem nas pesquisas, e tentando embalar candidaturas desse time, tipo [Romeu] Zema, Ratinho Jr., Tarcísio [de Freitas], [Ronaldo] Caiado”.

Genoino apontou ainda o discurso revisionista que ganha força entre esses nomes: “tanto o Caiado como o Zema começam a relativizar a ditadura, ‘é uma questão de interpretação, de exagero’. Olha bem o risco que estamos correndo”.

Ao final, ele sublinhou a profundidade da crise moral da elite brasileira revelada pelas investigações: “esse pessoal teve apoio, esse pessoal governou, esse pessoal teve apoio do sistema financeiro. O Tarcísio é governador, o Zema, o Caiado, o Ratinho… Não estamos falando de uma oposição. Eles têm maioria no Congresso, a extrema direita. Olha o risco que estamos correndo. Isso está revelado”.