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Celso Amorim: "nunca vivi num mundo tão perigoso"

Ex-chanceler e assessor do presidente Lula alerta para o risco “de um conflito global”: “estamos falando da sobrevivência da humanidade”

Celso Amorim (Foto: Agência Brasil )
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247 - Em entrevista à TV 247, o assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim, alertou sobre a gravidade do cenário global e defendeu a atuação diplomática do governo Lula (PT) frente a crises como a guerra na Ucrânia, o genocídio em Gaza e o crescente tensionamento geopolítico provocado pelos Estados Unidos. A entrevista foi conduzida por Tereza Cruvinel, Florestan Fernandes Jr. e Mário Vitor Santos, e tratou de temas delicados da política externa brasileira, incluindo a possibilidade de rompimento de acordos com Israel e a crescente aproximação com a China.

“Nunca vivi num mundo tão perigoso”, declarou Amorim, que tem mais de seis décadas dedicadas à diplomacia. “Não é um perigo teórico. Em Gaza, é genocídio. E o número de mortes na Ucrânia também é gigantesco. São guerras com risco real de escalar”.

Genocídio em Gaza e diplomacia com cautela - Ao comentar sobre as relações com Israel, Amorim confirmou que o governo estuda medidas concretas em resposta ao genocídio cometido em Gaza. "Quando o próprio presidente diz que está havendo genocídio... Não basta falar, tem que ter alguma ação", afirmou. No entanto, ponderou que romper relações pode prejudicar brasileiros em Israel, na Cisjordânia e até mesmo em Gaza. “É uma decisão que precisa ser pensada com muito cuidado”, explicou.

Amorim também mencionou a leitura que recomenda sobre o ex-premiê israelense Ehud Olmert, do Likud, que tem feito críticas duras às ações do governo de Benjamin Netanyahu. “O que está acontecendo vai contra os interesses a longo prazo do próprio povo israelense”.

Ucrânia, Rússia e o perigo de uma guerra europeia - O ex-ministro relatou suas recentes viagens a Moscou e à Turquia, onde acompanhou as tentativas de reabertura de diálogo entre Rússia e Ucrânia. Segundo ele, o ime se mantém porque “os russos não aceitam cessar-fogo sem que as causas profundas do conflito sejam resolvidas”. Amorim enfatizou que a guerra na Ucrânia está diretamente ligada ao fim da União Soviética e comparou o atual cenário com a desestabilização causada pela queda do Império Otomano.

Sobre a retirada gradual do apoio dos Estados Unidos à Ucrânia, Amorim avaliou: “certos fatos consumados não voltarão atrás. A situação no terreno vai ter que ser mantida por algum tempo, ainda que não seja reconhecida”. Para ele, a combinação entre a retração americana e o investimento militar europeu pode resultar em um conflito mais amplo. “A saída americana e a persistência do apoio europeu pode levar a uma guerra europeia muito perigosa”.

Brasileiros perseguidos nos EUA e crise consular - Celso Amorim também foi questionado sobre a crescente violência contra imigrantes, inclusive brasileiros, nos Estados Unidos. Ele reconheceu que os consulados brasileiros não têm capacidade suficiente para lidar com a demanda e afirmou que o Itamaraty criou um grupo de trabalho para lidar com a questão. “A comunidade brasileira contribui muito com a economia americana. Mas o governo dos EUA tem sido muito impermeável, inclusive ao diálogo sobre direitos humanos”, lamentou.

Acordos comerciais, China e o enfraquecimento do multilateralismo - A relação com os EUA, segundo Amorim, a por um momento delicado. Ele criticou duramente a política tarifária da istração Trump, que dobrou a tarifa sobre o aço e alumínio brasileiros, e lamentou a destruição do sistema multilateral de comércio, originalmente concebido pelos próprios americanos. “Eles estão dando um tiro de morte no multilateralismo comercial. Estamos regredindo praticamente um século”, alertou.

Por outro lado, Amorim defendeu o aprofundamento das relações com a China e mencionou os 37 projetos bilaterais em andamento. “O Brasil está fazendo o que qualquer país soberano faria. Estamos buscando equilíbrio. E o acordo Mercosul-União Europeia, mesmo com seus limites, pode servir a esse propósito”.

Defesa da soberania brasileira - Em relação às declarações do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos, que sugeriu sanções contra o Brasil, Amorim foi enfático: “nosso Judiciário precisa ser respeitado. As leis que valem no Brasil são as brasileiras, não as americanas.” Ele destacou que qualquer tentativa de intervenção externa será recebida com repúdio, e que o Brasil continuará a agir com firmeza em defesa de sua soberania.

Ao final da entrevista, Celso Amorim reforçou que o maior risco hoje não são conflitos pontuais, mas a soma de todos eles. “São pequenas bolhas d’água que, ao se unirem, formam uma grande bolha. E essa grande bolha pode ser o início de um conflito global. Estamos falando da sobrevivência da humanidade”.

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