Fim dos juros sobre reservas, em discussão no Senado dos EUA, pode desestabilizar sistema financeiro, alerta JPMorgan
Banco vê riscos à política monetária dos EUA com proposta de Ted Cruz para cortar pagamento às instituições financeiras
247 - Uma proposta em debate no Congresso dos Estados Unidos para eliminar o pagamento de juros sobre os saldos de reservas bancárias no Federal Reserve (Fed) acendeu o alerta entre analistas financeiros.
Segundo reportagem da Bloomberg, estrategistas do JPMorgan Chase & Co. apontam que a medida traria consequências significativas ao sistema bancário, aos mercados de liquidez e à própria condução da política monetária norte-americana.
A iniciativa, sugerida pelo senador republicano Ted Cruz em entrevista à CNBC, visa cortar gastos públicos ao suspender os pagamentos feitos às instituições financeiras que mantêm reservas no banco central. “Houve uma discussão robusta no Senado sobre isso”, declarou Cruz. Contudo, ele mesmo reconheceu que não sabe qual a real chance de a proposta avançar.
Sistema em risco
Atualmente, o Fed paga 4,4% de juros sobre aproximadamente US$ 3,2 trilhões a US$ 3,3 trilhões em reservas. De acordo com estimativas do JPMorgan, uma taxa média de 3,5% aplicada sobre US$ 3 trilhões ao longo de dez anos poderia representar uma economia de cerca de US$ 1 trilhão para os cofres públicos. No entanto, os analistas liderados por Teresa Ho alertam que o custo para o equilíbrio financeiro pode ser alto demais.
Criado em resposta à crise financeira global de 2008, o mecanismo de juros sobre reservas (conhecido como IORB, na sigla em inglês) ou a ser peça central no controle das taxas de juros de curto prazo pelo Fed. Sua eliminação, apontam os especialistas, teria como efeito colateral o deslocamento da liquidez bancária para outros instrumentos de mercado, como títulos do Tesouro de curto prazo, acordos de recompra (repos) e operações interbancárias.
“Tal mudança teria impacto direto na lucratividade dos bancos, forçaria uma revisão nas estratégias de gestão de liquidez, derrubaria as taxas de juros de curto prazo, elevaria a demanda pelas linhas permanentes do Fed e, mais grave, colocaria em risco o controle da autoridade monetária sobre os juros dos mercados monetários”, escreveram Ho e sua equipe em nota enviada a clientes.
Pressão sobre os mercados monetários
O pagamento de juros sobre reservas foi autorizado pelo Congresso em 2006, mas sua implementação foi antecipada em 2008 como resposta à turbulência financeira. Posteriormente, o Fed ou a contar também com o mecanismo de recompra reversa overnight (ON RRP), que remunera os recursos estacionados no banco central por contrapartes não bancárias, reforçando o controle sobre as taxas de juros de curtíssimo prazo.
Eliminar o IORB tornaria a manutenção de reservas menos atraente para os bancos, ao mesmo tempo em que normas regulatórias, como o índice de cobertura de liquidez (LCR), continuariam exigindo altos níveis de liquidez. O resultado seria uma possível reconfiguração do sistema: os bancos poderiam buscar mais risco e o excesso de liquidez migraria para o mercado de títulos públicos, provocando queda nas taxas desses ativos e pressionando os instrumentos do próprio Fed.
A expectativa é de que mais instituições em a recorrer ao ON RRP, elevando os custos do Fed, ou até mesmo às linhas permanentes de liquidez — como a “Standing Repo Facility” e a “Discount Window” — em caso de escassez de reservas.
Volta ao modelo pré-crise?
A proposta de Cruz reflete um debate mais amplo sobre um possível retorno ao modelo anterior à crise de 2008, conhecido como “sistema de corredor”, no qual o Fed influenciava as taxas de juros por meio de operações diárias com bancos, sem pagar juros sobre reservas. Tal reconfiguração implicaria em um balanço patrimonial menor para o Fed e maior presença de Treasuries no setor privado.
Para os estrategistas do JPMorgan, essa transição é pouco provável. “A ausência do IORB comprometeria o controle do Fed sobre as taxas do mercado monetário, dificultando a orientação das condições financeiras gerais por meio da taxa dos fundos federais”, afirmam. “O IORB e o ON RRP são ferramentas essenciais para o manejo das reservas do sistema em tempos de abundância.”
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