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Henrique Pizzolato

Ex-sindicalista bancário; ex-presidente da CUT Paraná; ex-diretor da Previ e do Banco do Brasil; militante de Direitos Humanos e membro da Rede Lawfare Nunca Mais

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Enquanto os gigantes brigam, o povo sangra e o império rui

Nos EUA de hoje, o confronto entre Trump e Musk revela a decadência de um império que reprime imigrantes nas ruas enquanto bilionários duelam por poder

Bilionário Elon Musk e presidente dos EUA, Donald Trump 11/02/2025 (Foto: REUTERS/Kevin Lamarque)

Nas ruas abafadas de Los Angeles, cobertas pela fumaça dos protestos e pelo cheiro do medo, os Estados Unidos mostram, mais uma vez, o que realmente são. A vitrine democrática do mundo, o país que se vende como bastião da liberdade, decide responder com tanques, cassetetes e balas de borracha à dor de quem trabalha, de quem migra, de quem resiste.

Ao mesmo tempo, um bilionário do Vale do Silício troca insultos com o presidente da república. Elon Musk, o gênio da tecnologia, o homem que manda foguetes para o espaço e demite trabalhadores por e-mail, chama Donald Trump de doente. Trump, o eterno personagem do caos, responde com ameaças, promessas de vingança, cortes de contratos e insinuações de traição.

Pode parecer que são coisas diferentes. Que o drama das ruas e o teatro dos ricos são dois mundos distantes. Mas não são. Eles fazem parte da mesma engrenagem. A engrenagem de um império em colapso. Um império que tenta se manter de pé com tecnologia de ponta e repressão pesada. Com algoritmos e baionetas.

Trump não reprime os protestos por descontrole. Ele reprime porque é isso que sabe fazer. Porque precisa mostrar poder, impor medo, afirmar sua força sobre quem já nasce vulnerável. Não há nada de novo nisso. Ele apenas retoma a velha tradição americana de resolver com o exército o que a democracia não consegue escutar.

Musk não briga com Trump porque é um defensor das liberdades. Ele briga porque seus interesses começaram a ser ameaçados. Porque viu o risco de perder seus incentivos, seus contratos, sua influência. E quando se sentiu ameaçado, usou o que tinha. Insinuações, chantagens, ironias, dados comprometedores. Como se dissesse: eu também conheço os podres do sistema.

Nesse duelo, os dois perdem alguma coisa. Mas quem mais perde é o povo. Os imigrantes, os jovens latinos, os trabalhadores precarizados. Perdem também os que acreditaram que as big techs trariam liberdade e que os bilionários eram heróis. O que se vê agora é um teatro de vaidades, um embate entre senhores feudais de um império falido.

Trump acusa Musk de traição. Musk diz que Trump enlouqueceu. Um quer o controle do solo. O outro, do céu. E no meio disso tudo, a terra arde. Arde com os gritos dos deportados, com o medo dos sem-documento, com a coragem dos que não aceitam calar.

Esse é o ponto mais grave. Quando a disputa de poder entre um político e um magnata se torna um conflito que pode afetar o cotidiano de milhões. Quando um tweet provoca quedas na bolsa, quando uma reunião fechada define cortes em benefícios sociais, quando um presidente escolhe o confronto ao diálogo e um bilionário prefere o deboche à responsabilidade.

Não há heróis nessa história. Há apenas interesses. Trump quer manter o controle, fazer da imigração uma guerra, da diferença um inimigo. Musk quer manter os lucros, dominar o espaço, transformar as relações sociais em linhas de código. E os dois, cada um a seu modo, querem um povo obediente.

O que assusta não é a violência isolada. É o conjunto. É a naturalização da repressão, a estetização do autoritarismo, a celebração da brutalidade como gesto de coragem. É ver crianças sendo separadas dos pais, ativistas sendo espancados, jornalistas sendo silenciados. E é, ao mesmo tempo, ver um bilionário sugerindo que sabe demais, que tem dossiê, que pode destruir um presidente com uma postagem.

Essa é a democracia que vendem. A democracia onde quem manda é quem tem exército ou quem tem servidor. Onde o povo grita nas ruas e as big techs ajustam os algoritmos para que esse grito não chegue a lugar nenhum.

Mas o grito existe. E resiste. Os protestos que explodiram nas ruas da Califórnia mostram que ainda há gente disposta a enfrentar a barbárie. Gente que não aceita ser silenciada. Gente que entende que a luta de um imigrante na fronteira é a mesma luta de um trabalhador explorado em qualquer parte do mundo.

O que acontece hoje nos Estados Unidos interessa a todos. Porque quando o império adoece, seus reflexos chegam à América Latina, à África, à Europa. Porque o que está em jogo não é apenas o destino de um país, mas a sobrevivência da própria ideia de futuro.

Se o futuro for escrito por Trump e Musk, ele será uma distopia. Com muros, drones, repressão, vigilância total e direitos condicionais. Mas ainda há tempo de disputar esse futuro. E essa disputa começa onde sempre começou. Na rua, na palavra, no gesto de resistir.

O império estremece. E quando ele estremece, devemos estar atentos. Porque entre o silício dos bilionários e a baioneta dos generais, pode surgir uma voz nova. E essa voz, talvez, venha de onde menos se espera. Do povo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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