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Luis Mauro Filho

Luis Mauro Filho é jornalista, formado em Estudos de Mídia pela Universidade do Wisconsin, e é editor do Brasil 247.

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Eleito sem adversários, Samir Xaud chega ao comando da CBF e inicia era Ancelotti

Presidente é alvo de críticas por falta de experiência e denúncias, mas aposta em técnico italiano para recuperar prestígio da Seleção

@rafaelribeirorio l CBF (Foto: @rafaelribeirorio l CBF)

O mês de maio termina com um dos momentos mais inesperados do futebol brasileiro recente: a ascensão de Samir Xaud à presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Aos 41 anos, o médico infectologista roraimense viu cair em seu colo a principal cadeira do futebol nacional, em meio ao enfraquecimento político e institucional do ex-presidente Ednaldo Rodrigues e a uma sucessão de eventos que esvaziaram a legitimidade do processo eleitoral.

A eleição de Xaud se deu de forma simbólica e controversa. Com apenas uma chapa registrada, o dirigente foi eleito por aclamação em assembleia realizada na sede da CBF, no Rio de Janeiro, no último sábado (25). O pleito contou com a participação de 46 dos 67 votantes possíveis – 26 federações estaduais e 20 clubes das Séries A e B. O sistema de votação da entidade atribui peso maior aos votos das federações (três pontos), seguidos dos clubes da Série A (dois pontos) e da Série B (um ponto). Com 103 pontos dos 141 possíveis, Xaud garantiu mandato até 2029, cobrindo inclusive o ciclo da Copa do Mundo de 2026.

O que deveria ser um momento de renovação acabou ofuscado por uma série de críticas. Vinte e um clubes, entre eles Corinthians, Flamengo, São Paulo, Fluminense, Internacional e Athletico-PR, boicotaram a eleição, classificando o sistema como antidemocrático e desproporcional. Eles am uma carta pública exigindo mudanças estatutárias que aumentem o poder de decisão dos clubes nas eleições da entidade.

Ao mesmo tempo, dirigentes de clubes como Palmeiras e Botafogo decidiram apoiar o novo presidente. Leila Pereira, mandatária do clube paulista, afirmou que não via sentido em protestar de forma conflituosa. “Não é o momento de exigências. É momento de sentarmos, conversarmos, para que essas pautas sejam implementadas”, declarou.

Já o CEO do Botafogo, Thairo Arruda, disse que a eleição de Xaud foi uma “surpresa positiva”, sinalizando a possibilidade de pacificação interna. Sua presença na assembleia marcou uma reviravolta na postura do clube, que inicialmente integrava o grupo de 21 agremiações contrárias ao pleito.

Segundo reportagem do jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, o recuo do Botafogo foi resultado de uma articulação direta entre o clube e o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes — movimento que Thairo descreveu publicamente como uma “composição com Brasília”. O objetivo do acordo, segundo Jardim, teria sido evitar o banimento do empresário John Textor, dono da SAF botafoguense, acusado pela CBF de denúncias infundadas de manipulação de resultados no Campeonato Brasileiro de 2023.

Sem concorrência viável, a candidatura de Samir Xaud prosperou com apoio maciço das federações estaduais, o que inviabilizou qualquer chapa alternativa. O estatuto da CBF exige a de ao menos oito federações e cinco clubes para registro de uma candidatura, critério que a oposição não conseguiu cumprir, mesmo com o apoio de quase 30 clubes.

O currículo de Xaud, no entanto, levantou dúvidas. Médico por formação, sua principal ligação com o futebol vem do pai, Zeca Xaud, que preside a Federação Roraimense de Futebol há cerca de quatro décadas. Samir já era vice-presidente da federação e havia sido eleito para suceder o pai em 2027, também por aclamação.

Não há histórico relevante de gestão esportiva em sua trajetória, mas há controvérsias: ele responde a uma ação do Ministério Público de Roraima por suspeita de falsificação de documentos durante sua gestão como diretor do Hospital Geral de Roraima (HGR), entre 2017 e 2020. O caso envolve um prejuízo estimado em R$ 1,4 milhão. O dirigente nega qualquer irregularidade e atribui as acusações a “ataques políticos”.

Além disso, Xaud foi alvo de críticas quando a CBF, em 2021, contratou sua clínica médica para prestar serviços em Roraima, medida que contraria o próprio estatuto da entidade, que veda contratos com empresas ligadas a dirigentes. A justificativa dada à época foi de que os clubes locais careciam de estrutura, e a clínica foi selecionada emergencialmente.

Apesar dos questionamentos, Xaud estreou oficialmente no cargo com uma ação de forte repercussão: a apresentação de Carlo Ancelotti como técnico da Seleção Brasileira. O evento, realizado em um hotel na Barra da Tijuca, reuniu a imprensa e membros da nova gestão. O presidente prometeu “autonomia total” ao treinador italiano, reforçando que não haverá ingerência nas convocações ou decisões técnicas.

“Ele vai ter total autonomia para decidir o que for melhor para a Seleção. Vamos blindar de qualquer situação externa. Eles precisam dessa liberdade para realizar um trabalho com excelência”, afirmou Xaud.

Ancelotti, por sua vez, mostrou entusiasmo. “É uma honra estar à frente da melhor seleção do mundo. Sabemos do desafio, mas estou confiante de que podemos trazer de volta a era de títulos para o Brasil”, declarou. O italiano assume com a missão de preparar o time para a Copa do Mundo de 2026, que será realizada nos Estados Unidos, México e Canadá.

Sua primeira convocação já indicou mudanças de rumo. Neymar, lesionado recentemente e ainda sem ritmo ideal no retorno ao Santos, ficou de fora. A decisão, segundo Ancelotti, se deve exclusivamente ao estado físico do jogador. “Falei com o Neymar nesta manhã. Ele entendeu. É um jogador importante, e contamos com ele para a Copa, mas agora não está 100%”, explicou.

Foram chamados 25 atletas, mesclando nomes experientes, como Casemiro e Danilo, com promessas como Estêvão, de apenas 17 anos. A presença significativa de jogadores que atuam no futebol brasileiro, especialmente do Flamengo, indica uma valorização do cenário nacional, enquanto estrelas como Vinícius Júnior e Bruno Guimarães continuam como pilares da base europeia da equipe.

A decisão de deixar Neymar de fora teve apoio de comentaristas esportivos. Juca Kfouri considerou sensata a escolha de priorizar atletas em melhor forma. Mauro Cezar Pereira elogiou a postura de Ancelotti por “não convocar por nome ou status” e disse que o técnico começa com o “pé direito”.

Além da questão esportiva, Xaud prometeu mudanças estruturais na CBF. Anunciou que, a partir de 2026, os campeonatos estaduais terão no máximo 11 datas. Hoje, campeonatos como o paulista e o carioca contam com mais de 15 jogos totais.

Ele também acenou com apoio à criação de uma liga de clubes para organizar o Brasileirão, deixando à CBF a responsabilidade pelas seleções e competições de base.

O desafio de Samir Xaud será equilibrar sua base de apoio nas federações com a necessidade de diálogo com os clubes, especialmente os que boicotaram sua eleição. Dirigentes como Marcelo Paz (Fortaleza) e Andres Rueda (Santos) já indicaram que irão cobrar a execução das promessas feitas. Do lado dos aliados, a expectativa é de que a nova gestão consiga efetivar uma agenda de profissionalização.

O início da “Era Ancelotti” e a chegada de um presidente com pouca experiência no futebol de alto nível representam uma inflexão no cenário da CBF. Ainda é cedo para avaliar se a nova gestão trará as mudanças prometidas, mas a combinação de um técnico de renome e a pressão por reformas institucionais coloca a entidade diante de uma oportunidade rara: reconstruir sua credibilidade e reconectar a Seleção com a torcida.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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