China propõe nova cooperação científica na Rota da Seda e critica barreiras tecnológicas "autoritárias" dos EUA
Em Chengdu, gigante asiático defende ciência aberta e cooperação Sul-Sul como resposta a barreiras geopolíticas e lança plano para mil projetos até 2030
Por Guilherme Paladino, de Chengdu (China), para o 247 - Com presença de autoridades e convidados de mais de 90 países e regiões, foi aberta nesta quarta-feira (11), em Chengdu, capital da província de Sichuan, a segunda edição da Conferência da Iniciativa Cinturão e Rota sobre Intercâmbio em Ciência e Tecnologia, considerada pela diplomacia chinesa uma plataforma central para a promoção de inovação colaborativa entre países do Sul Global.
A abertura do evento, sediado em uma das regiões industriais e tecnológicas mais dinâmicas da China, contou com a participação de altas autoridades chinesas e estrangeiras, incluindo o vice-primeiro-ministro Ding Xuexiang, o ministro da Ciência e Tecnologia da China, Yin Hejun, e o secretário do Partido Comunista da China em Sichuan, Wang Xiaohui. Também estiveram presentes representantes de países como Irã, Uzbequistão, Tailândia, Cuba, Equador, Honduras, Malásia, Peru e Sérvia, além de líderes empresariais de gigantes como Alibaba, Tencent e CATL.
Ciência como ponte contra fragmentações geopolíticas
Em seu discurso de abertura, o vice-primeiro-ministro Ding Xuexiang, que também integra o Comitê Permanente do Birô Político do Partido Comunista da China, alertou sobre o atual contexto internacional, marcado por tensões crescentes, protecionismo e "barreiras arbitrárias" impostas por países que, segundo ele, agem com posturas autoritárias e hegemonistas — em clara referência às políticas de contenção tecnológica adotadas pelos Estados Unidos.
Diante desse cenário, Ding afirmou que a China aposta na cooperação científica como caminho para o desenvolvimento comum e apresentou quatro propostas para o aprofundamento da colaboração entre os países da Iniciativa Cinturão e Rota:
- Reforçar a cooperação científica aberta, por meio da criação de redes internacionais entre instituições, universidades e centros de pesquisa: "estamos lançando projetos científicos internacionais como laboratórios conjuntos e programas especiais em IA e cooperação espacial";
- Ampliar o compartilhamento de resultados tecnológicos, para que a inovação beneficie "toda a humanidade", com foco no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: "ciência não tem fronteiras e tem que beneficiar toda a humanidade. Temos que evitar que se torne apenas um jogo para países e pessoas ricos. Vamos implantar tecnologias em países em desenvolvimento e países do Sul Global";
- Intensificar os intercâmbios interpessoais, por meio de formações, bolsas e seminários destinados a jovens cientistas dos países parceiros: "vamos selecionar jovens cientistas talentosos para formação e investigações conjuntas em instituições de topo na China";
- Aperfeiçoar o sistema de governança global em ciência e tecnologia, com regras mais inclusivas, éticas e justas para enfrentar desafios compartilhados.
Durante o evento, Ding anunciou o lançamento do plano “Duplo Mil” na zona Chengdu-Chongqing, que prevê, até 2030, a realização de mil projetos de cooperação científica e a vinda de mil pesquisadores estrangeiros à China no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota.
Cooperação já gera resultados concretos, diz ministro da Ciência
O ministro da Ciência e Tecnologia da China, Yin Hejun, afirmou que o consenso alcançado na primeira edição da conferência, em 2023, "já produziu frutos abundantes". Segundo ele, nos últimos anos, a China:
- Firmou acordos de cooperação científica com mais de 80 países;
- Estabeleceu mais de 10 centros transnacionais de transferência de tecnologia;
- Publicou uma lista com mil tecnologias avançadas disponíveis para intercâmbio;
- Lançou 4 mil projetos de pesquisa conjunta;
- Criou 70 laboratórios conjuntos em áreas como saúde, arquitetura moderna e tecnologias de ponta;
- E recebeu 55 mil jovens cientistas de países parceiros para programas de formação.
Sichuan quer se consolidar como hub de inovação global
Sede do evento, a província de Sichuan apresentou suas credenciais como polo emergente de ciência e tecnologia. Em 2024, o PIB local ultraou 6,4 trilhões de yuans (cerca de US$ 880 bilhões), e a região tem apostado fortemente na integração entre inovação científica e industrial.
“As perspectivas de cooperação tecnológica no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota são amplas”, afirmou o secretário provincial Wang Xiaohui. “Queremos compartilhar os resultados da inovação científica com todos os países parceiros e construir, juntos, novas plataformas de desenvolvimento colaborativo.”
Além das falas institucionais, a conferência marcará o lançamento da Declaração de Chengdu, um documento que deverá consolidar os compromissos multilaterais firmados entre os países participantes para o avanço conjunto da ciência, com base nos princípios de abertura, equidade e benefício mútuo.
Na véspera do evento, Ding Xuexiang realizou encontros bilaterais com líderes de Sérvia, Irã e Uzbequistão, reiterando o interesse da China em transformar a cooperação científica em novo motor das relações bilaterais. Segundo comunicado oficial, Ding destacou o papel dos laços em ciência e tecnologia para a construção de "comunidades de futuro compartilhado" com cada um desses países.

Gigantes chinesas sinalizam parcerias com países da BRI
O evento também contou com painéis empresariais com a presença de representantes de grandes empresas de tecnologia chinesas, como Tencent, Alibaba e CATL, que apresentaram propostas de cooperação em áreas como inteligência artificial, plataformas digitais e transição energética.
A expectativa é que essas empresas liderem uma nova geração de projetos internacionais no escopo da BRI, com parcerias voltadas especialmente para países em desenvolvimento.
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