Rio2C 2025 - um mergulho nas interseções entre tecnologia, humanidade e sustentabilidade
A presença de vozes diversas e a ênfase em práticas regenerativas e inclusivas indicam um movimento promissor rumo a um futuro mais equilibrado e humano
Por Bia Willcox, especial para o 247 - Estive presente no segundo dia do Rio2C 2025, realizado na Cidade das Artes, e apresentou uma versatilidade de temas e ideias, onde inovação, criatividade, gestão e propósito se entrelaçaram em discussões que moldam o futuro das relações humanas mediadas pela tecnologia.
Produção audiovisual: entre regulação e criatividade
No palco GlobalStage, a produtora espanhola Esther García compartilhou sua vasta experiência de mais de 90 filmes, destacando a importância dos festivais para o cinema independente e a necessidade de políticas afirmativas e regulação no setor audiovisual. Nome histórico da produtora El Deseo, criada por Pedro Almodóvar e seu irmão Agustín, Esther foi responsável por títulos icônicos como Tudo Sobre Minha Mãe, Fale com Ela e A Pele que Habito. Vencedora do Prêmio Nacional de Cinematografia da Espanha em 2018, ela é reconhecida não apenas pela eficiência técnica, mas por sua visão ética e humana sobre a produção cultural. Sua fala no Rio2C ressaltou a urgência de estruturas que garantam diversidade, sustentabilidade e protagonismo feminino no audiovisual. Ao reivindicar políticas públicas e regulação, Esther toca num ponto vital: sem planejamento estratégico e compromisso institucional, o futuro criativo das narrativas independentes corre o risco de ser sufocado por lógicas puramente mercadológicas. Como advogada e entusiasta da inovação com propósito, vejo nessa pauta não só uma questão de justiça cultural, mas também de inteligência de gestão para a sobrevivência do plural na indústria global de conteúdos.
Em seguida, Mary Livanos, executiva da Marvel Studios responsável por produções como WandaVision, The Marvels e Agatha All Along, subiu ao palco ao lado da diretora brasileira Gandja Monteiro, radicada nos EUA e reconhecida por comandar episódios de The Witcher, Wandinha e Vida. Juntas, discutiram os desafios de manter a autonomia criativa em produções de grande escala — aquelas em que a pressão por audiência, retorno financeiro e fidelidade à marca muitas vezes engessam a inovação estética e narrativa. Gandja, com trajetória marcada pela sensibilidade visual e direção de elencos diversos, enfatizou que, mesmo em projetos gigantescos, são os processos humanos — a escuta, o repertório, a intuição — que sustentam a potência da criação. Citando clássicos como Metrópolis, de Fritz Lang, e E.T., de Spielberg, ela relembrou que impacto emocional não depende exclusivamente de recursos tecnológicos.
Esse ponto é bastante significativo. Vivemos uma era em que a padronização criativa, muitas vezes travestida de fórmula de sucesso, ameaça o espaço para o risco, o improviso e a voz autoral. Vejo a autonomia criativa não apenas como um luxo artístico, mas como uma necessidade estratégica — inclusive em contextos corporativos. Grandes franquias que souberem preservar e promover essa autonomia serão justamente as que conseguirão se reinventar com autenticidade num mar vermelho e saturado de conteúdo. O que Gandja e Mary demonstraram, com generosidade e lucidez, é que há sim caminhos para criar com liberdade mesmo dentro dos impérios da indústria. Basta lembrar que inovação real começa quando se ousa confiar — nas pessoas, nas histórias, nos processos.
Sustentabilidade e inovação: caminhos para um futuro regenerativo
No palco Biodom, debates sobre modelos regenerativos nos negócios destacaram a importância de práticas sustentáveis e inclusivas. Aira Nascimento, do Instituto As Josefinas, e Carlos Ferraz, da Agir, trouxeram perspectivas sobre como empresas podem integrar sustentabilidade em suas operações. Além disso, discussões sobre moda sustentável, com representantes da C&A Modas e Azulerde, mostraram iniciativas de criação e reuso que apontam para um consumo mais consciente.
No BrainSpace, a psicóloga Mirian Goldenberg e a jornalista Yasmin Setubal debateram os impactos culturais da busca pela perfeição, enquanto especialistas como Thaís Gameiro abordaram habilidades emocionais na era digital, ressaltando a importância do bem-estar em um mundo cada vez mais conectado.
Tecnologia e sociedade: a construção de futuros possíveis
O palco New Frontier foi palco de discussões sobre os impactos da tecnologia na sociedade. O documentarista francês Cyril Dion falou sobre narrativas transformadoras diante da crise ambiental, enquanto a jovem cientista brasileira Larissa Paiva compartilhou sua experiência em projetos da NASA, evidenciando o protagonismo brasileiro em iniciativas globais.
Debates sobre inteligência artificial, conduzidos por especialistas como Bárbara Pizzolatto e Ângelo Vieira Jr., abordaram o custo ambiental da IA generativa, levantando questões sobre ética e sustentabilidade no desenvolvimento tecnológico.
Como especialista em relações humanas permeadas por tecnologias, inovação e gestão inteligente, percebo que o Rio2C 2025 reforça a necessidade de uma abordagem holística na construção do futuro. A interseção entre tecnologia, sustentabilidade e criatividade não é apenas desejável, mas essencial para enfrentar os desafios contemporâneos. E sobretudo, há uma necessidade contínua de se ter uma mentalidade voltada para gestão e negócios no universo audiovisual. Isso ficou muito claro em tudo o que vi e ouvi.
A presença de vozes diversas e a ênfase em práticas regenerativas e inclusivas indicam um movimento promissor rumo a um futuro mais equilibrado e humano. O evento não apenas celebra a criatividade, mas também nos convida a refletir sobre o papel de cada um na construção de um mundo mais justo e sustentável traduzido e interpretado nas artes e no audiovisual.
* Bia Willcox é advogada, especialista em relações humanas e tecnologias, e atua nas áreas de inovação, empreendedorismo e gestão inteligente.
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