'Está confirmada a autoria intelectual de Bolsonaro na tentativa de golpe', diz Liana Cirne Lins
Para vereadora e jurista, depoimento de Mauro Cid ao STF comprova participação ativa de Bolsonaro na articulação golpista
247 - Durante entrevista concedida à TV 247 nesta terça-feira (10), a vereadora do Recife pelo PT e professora de Direito Liana Cirne Lins afirmou, de forma categórica, que Jair Bolsonaro (PL) foi o responsável intelectual pela tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Segundo a parlamentar, o depoimento prestado pelo tenente-coronel Mauro Cid ao Supremo Tribunal Federal (STF) não deixa dúvidas sobre o papel central exercido por Bolsonaro na elaboração e condução do plano golpista.
“A autoria intelectual de Jair Bolsonaro está confirmada”, declarou Liana Cirne, ao destacar que o ex-presidente não apenas participou ativamente da criação da minuta do decreto que visava anular o resultado eleitoral, como também liderou reuniões com os comandantes das Forças Armadas. “Ele era o responsável, era quem controlava as operações delituosas”, afirmou. E reforçou: “Bolsonaro teve o domínio do fato. Ele editou a minuta do decreto golpista, participou de sua elaboração, comandou e presidiu as reuniões com os chefes militares”.
A jurista ainda sublinhou que os atos praticados por Bolsonaro evidenciam a tentativa de consumação de um crime contra o Estado Democrático de Direito. “Me parece que o depoimento de Mauro Cid realmente compromete totalmente Jair Bolsonaro”, concluiu.
Quatro horas de depoimento e uma confissão integral - As declarações de Liana se referem ao interrogatório de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, realizado nesta segunda-feira (9) no STF. Durante cerca de quatro horas, Cid confirmou todos os elementos já prestados em sua colaboração premiada firmada com a Polícia Federal. “Confirmo integralmente o conteúdo da minha delação”, afirmou, ao ser questionado pelo ministro relator Alexandre de Moraes.
O ponto mais grave do depoimento foi a revelação de que o próprio Bolsonaro editou pessoalmente a chamada “minuta do golpe”, que previa, entre outras medidas, a prisão do ministro Alexandre de Moraes e a anulação das eleições que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) presidente da República.
Outro elemento citado foi um documento chamado “Copa 22”, que, segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), previa inclusive o assassinato de Lula, Moraes e do vice-presidente Geraldo Alckmin. Cid negou ter reado o conteúdo, mas reconheceu que o material foi discutido em reunião na casa do general Braga Netto.
Um plano com várias frentes - Ainda em sua fala, Mauro Cid afirmou que, embora não houvesse uma organização formal, existiam grupos no entorno de Bolsonaro que levavam ideias golpistas ao Palácio do Planalto. Ele citou o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, como um dos mais radicais, enquanto Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira teriam posições mais moderadas. Questionado se Bolsonaro desejava permanecer no poder mesmo após a derrota nas urnas, Cid respondeu que “a maior preocupação dele sempre foi encontrar uma fraude nas urnas”.
A audiência marcou o início da fase mais aguardada do julgamento dos acusados de planejar e tentar executar um golpe de Estado em 2022. O ministro Alexandre de Moraes reservou toda esta semana para os interrogatórios. Nesta terça-feira (10), é a vez do almirante Almir Garnier prestar esclarecimentos.
Críticas e reações - Durante a entrevista, Liana Cirne criticou o desempenho do procurador-geral da República, Paulo Gonet, na audiência. “Não gostei da inquirição do procurador-geral. Achei que as perguntas fugiram do foco principal, que era comprovar a autoria intelectual de Bolsonaro.” Em contrapartida, elogiou o relator: “gostei demais das perguntas do ministro Alexandre de Moraes”.
A denúncia da PGR, aceita por unanimidade pela Primeira Turma do STF, envolve acusações de tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.
Ao fim da audiência, Jair Bolsonaro declarou à imprensa: “não vou ser condenado. Estou bem, estou tranquilo. Mas é lógico que ninguém queria estar aqui”. Seu advogado, Celso Vilardi, tentou descredibilizar o depoente: “tem uma memória seletiva. Quando confrontado, diz que esqueceu”.
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