Reunião entre Lula e Putin reforça papel estratégico da parceria entre os países do Sul Global
Após 15 anos, líderes discutem cooperação em defesa, energia e comércio, e aproximam posições sobre multipolaridade e reforma da governança global
Agência Sputnik Brasil - Quinze anos após o último encontro em pessoa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou com Vladimir Putin em Moscou em meio a um cenário global de intensas tensões geopolíticas. A reunião, que ocorre em meio às comemorações do Dia da Vitória na Grande Guerra Pela Pátria, tem como objetivo fortalecer laços estratégicos, além de discutir novas oportunidades de cooperação entre os dois países. À Sputnik Brasil, Valdir Bezerra, especialista em relações internacionais, analisou as principais implicações dessa visita e os interesses estratégicos do Brasil ao buscar aprofundar sua parceria com a Rússia.
Lula destacou que a visita é uma oportunidade para o Brasil estreitar ainda mais a cooperação com a Rússia, sobretudo nas áreas de defesa, ciência, tecnologia e energia. Desde a primeira visita de Lula à Rússia, no início dos anos 2000, a relação entre os dois países foi marcada por um forte vínculo pessoal entre os presidentes, algo que Bezerra considera um aspecto essencial dessa relação. A Rússia possui uma grande expertise em diversas áreas que Lula vê como cruciais para o Brasil, como defesa, ciência e tecnologia, aponta Bezerra.
"A Rússia tem uma expertise no segmento aeroespacial que é reconhecida mundialmente, então há bastante espaço para que a cooperação nesse âmbito em específico seja aprimorada", enfatiza Bezerra. O especialista ressalta ainda que os fertilizantes russos são um insumo crucial para o agronegócio brasileiro. No entanto, como Mauro Vieira afirmou em entrevista, o Brasil não vai à Rússia apenas para confirmar esses laços, mas sim para diversificar ainda mais.
"Existe grande espaço para que essa diversificação ocorra", diz Bezerra, citando que para dois países de tamanho continental, o volume atual de comércio bilateral tem bastante potencialmente de crescimento. Atualmente na marca de US$ 12 bilhões (aproximadamente R$ 68 bilhões), historicamente o comércio tem sido deficitário para o Brasil. A diversificação, defende Bezerra, poderia beneficiar a economia brasileira a longo prazo ao exportarmos mais produtos de valor agregado para a Rússia.
Outro ponto importante discutido durante o encontro foi o papel da Rússia no fortalecimento do multilateralismo. Bezerra acredita que a Rússia tem um papel essencial na defesa de uma nova ordem internacional mais multipolar, onde o poder não fique concentrado apenas no Ocidente. "As instituições multilaterais precisam refletir essa nova realidade multipolar do mundo, onde você testemunha novos centros de poder."
Para o Brasil, essa é uma oportunidade de trabalhar com a Rússia, a China e outros países do Sul Global para promover uma governança mais representativa no cenário internacional. Um dos exemplos mais claros dessa reforma é a expansão do Conselho de Segurança da ONU. A Rússia tem apoiado essa aspiração do Brasil, e essa é uma parceria que deve ser cada vez mais fortalecida, avaliou Bezerra.
Bezerra lembra que o Brasil apoiou a entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio e, mais recentemente, no fortalecimento do BRICS, agrupamento de países que se expandiu recentemente para incluir, além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Indonésia e o Irã.
Na última cúpula na Rússia foi criada a categoria de países-parceiros da qual já fazem parte nove nações: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão.
De acordo com Guilherme Conceição, doutorando em Relações Internacionais e pesquisador do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético, o Brasil tem se esforçado para consolidar um papel de mediador no cenário internacional, especialmente em relação ao conflito na Ucrânia. Embora o governo brasileiro tenha enfrentado críticas pela visita a Moscou em um contexto de polarização política mundial, Conceição argumenta que a ação visa colocar o Brasil como um ator relevante nas discussões globais, reafirmando o compromisso com a diplomacia multilateral.
Entre os principais objetivos dessa cooperação, destacam-se os interesses comerciais e energéticos.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, teve um encontro com representantes da Tenex, subsidiária da gigante russa Rosatom, maior importadora de urânio do mundo. A proposta de uma t venture para exploração de recursos minerais, incluindo urânio, e a construção de pequenos reatores nucleares também foram discutidas. "O Brasil está buscando garantir seu lugar na construção dessa nova arquitetura global", conclui o especialista.
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