Entenda como foi lançada a Operação Teia de Aranha, que atacou aviões russos com drones
Ucrânia usou drones kamikazes lançados do interior da Rússia para atingir bombardeiros estratégicos em bases aéreas a milhares de quilômetros da fronteira
247 – Uma investigação da agência Reuters revelou os detalhes de uma das ações mais ousadas da Ucrânia desde o início da guerra em grande escala contra a Rússia. A operação secreta, batizada de “Teia de Aranha”, utilizou drones de curto alcance lançados de dentro do território russo para atingir quatro bases militares estratégicas, incluindo a base de Belaya, situada a cerca de 4.850 km de Kiev, na remota Sibéria.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy classificou a ofensiva como “absolutamente brilhante” e afirmou que, dos 41 aviões atingidos, “metade não pode ser reparada”. Embora autoridades russas tenham fornecido poucos detalhes, imagens de satélite verificadas pela Reuters mostram bombardeiros estratégicos – como os Tupolev Tu-95 e Tu-22M3 – seriamente danificados ou completamente destruídos.
Como foi executado o ataque
Segundo o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), a operação levou 18 meses de planejamento e envolveu o envio clandestino de 117 drones ao território russo. Escondidos sob telhados retráteis de galpões de madeira, os equipamentos foram transportados por caminhões até locais próximos às bases aéreas. Na hora programada, os drones foram liberados remotamente — em alguns casos com e de inteligência artificial.
Vídeos analisados pela Reuters mostram drones decolando da traseira de caminhões estacionados a 7 km da base de Belaya. Em outros registros, vê-se a remoção do telhado de um galpão para permitir o voo dos drones. De acordo com o SBU, os equipamentos foram controlados pela rede de telecomunicações russa, e, em casos de perda de sinal, seguiram rotas autônomas pré-definidas até os alvos, detonando os explosivos automaticamente no impacto.
O SBU afirmou ainda que todos os agentes envolvidos haviam retornado à Ucrânia antes do início da operação.
Alvos estratégicos e danos confirmados
As bases atacadas foram Olenya, Ivanovo, Dyagilevo e Belaya. Em Olenya, vídeos mostram dois bombardeiros Tu-95 em chamas e um terceiro sendo atingido por uma forte explosão. Em Ivanovo, imagens confirmam drones pousando sobre os radares de aviões espiões A-50, dos quais há apenas algumas unidades na frota russa.
Segundo o SBU, as aeronaves atingidas incluíram bombardeiros Tu-95, Tu-160 e Tu-22, além de cargueiros militares An-12 e Il-78. Moscou ainda não se pronunciou oficialmente sobre essas alegações, mas as imagens verificadas pela Reuters corroboram grande parte das declarações ucranianas.
Fabian Hinz, pesquisador do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), destacou que o ataque é ainda mais grave porque os aviões atingidos estão fora de linha de produção. “Os russos podem encontrar bilhões de dólares aqui e ali, mas essas aeronaves não são mais fabricadas. Isso é muito mais sério do que perder dinheiro. Foi um ataque extremamente significativo”, afirmou.
Estimativas indicam que entre 10 e 13 bombardeiros estratégicos foram destruídos ou danificados nas bases de Irkutsk e Murmansk, reduzindo a capacidade de Moscou de lançar mísseis de cruzeiro contra a Ucrânia.
Sabotagem interna e efeito psicológico
O site russo Baza, com vínculos com os serviços de segurança do país, apontou como principal suspeito um cidadão ucraniano de 37 anos que vivia na região de Chelyabinsk. Ele teria criado uma empresa de transporte em 2023 e adquirido caminhões usados para movimentar os galpões com drones escondidos. A Reuters não conseguiu verificar essas informações de forma independente.
A ofensiva teve também impacto simbólico e psicológico. Keith Kellogg, ex-conselheiro de segurança do ex-presidente Donald Trump, declarou à Fox News que o efeito psicológico do ataque sobre a Rússia é mais relevante que os danos materiais. Ele também mencionou relatos não confirmados sobre um ataque ucraniano a uma base naval no norte da Rússia.
Uma nova fronteira da guerra
Com a Operação Teia de Aranha, a Ucrânia inaugura um novo tipo de ofensiva baseada em sabotagem de precisão a partir do interior do território russo. Essa tática representa um desafio significativo às defesas de Moscou, que não esperavam ataques a partir de locais tão profundos e distantes da linha de frente.
“Você tem agora todo um novo mundo de possibilidades para sabotagem dentro de um país”, disse Hinz. “Este foi o ataque mais espetacular e provavelmente o mais impactante desse tipo que já vimos.”
Enquanto isso, no campo de batalha convencional, as forças russas continuam registrando avanços graduais na Ucrânia, o que pode reforçar sua posição em eventuais negociações exploratórias de paz.
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