Brasileira deportada da França, mesmo com visto válido, relata racismo e abuso: "pesadelo"
Mesmo com visto válido, a doutoranda Márcia Rodrigues foi deportada ao tentar entrar na França
247 - A doutoranda brasileira Márcia Rodrigues, de 31 anos, viveu um episódio traumático ao ser deportada da França, mesmo com o visto válido para circular pelo Espaço Schengen. A história foi relatada por ela em entrevista ao portal Metrópoles, onde detalhou as dificuldades e medos que enfrentou durante sua experiência acadêmica na Europa.
Nascida no Rio de Janeiro e formada em Gestão Ambiental pela Faculdade Anhanguera de Niterói, Márcia cursa doutorado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em regime "sanduíche" — no qual parte dos estudos é realizada no exterior. A pesquisadora estava em Portugal, onde realizava uma etapa do seu doutorado na Faculdade de Aveiro, na cidade do Porto. Além disso, ela também é vinculada ao Laboratório do Museu da Universidade de São Paulo (USP), trabalhando com material arqueológico relacionado à Amazônia.
Durante seu período em Portugal, Márcia buscava aprofundar seus estudos sobre a chamada Terra Preta Arqueológica, um tipo de solo escuro e fértil da Amazônia. “Eu fui [para Portugal] para poder entender como é que eles trabalham, a fim de trazer isso para o meu trabalho e contribuir para a região amazônica”, explicou.
No entanto, a oportunidade acadêmica não foi acompanhada de tranquilidade. A pesquisadora revelou que, antes mesmo da viagem, foi tomada por uma série de temores. “Quando eu ei para esse edital, eu tive muitos pesadelos. Toda noite eu tinha pesadelo com o tráfico de mulheres”, contou.
A razão de tanto medo não estava apenas na distância de casa, mas em experiências pessoais de racismo e assédio que já havia enfrentado. “Porque eu sou uma mulher preta, do estado do Rio de Janeiro. Praticamente todas as minhas experiências com homens europeus não são boas. Porque normalmente eram aqueles caras que achavam que podiam encostar no meu corpo sem minha autorização. Eu sempre fui muito assediada. Não é uma questão de beleza, é uma questão de eles acharem que o Brasil é um lugar de turismo sexual”, desabafou.
Apesar de todo o receio, a presença de uma amiga de longa data morando em Portugal ajudou a aliviar a tensão inicial. “Eu pensei: ‘Bom, tem uma mulher lá. Eu posso respirar um pouco'”, relatou. Ainda assim, a doutoranda deixou claro que a experiência na Europa nunca foi um desejo pessoal: “Não era um sonho de consumo. Na verdade, foi o meu pesadelo”.
Mesmo com autorização de residência válida para um ano, ela optou por retornar ao Brasil após oito meses. Antes de embarcar de volta, decidiu fazer uma rápida visita a Paris, tanto para lazer quanto para estabelecer contatos com professores de sua área. No entanto, ao desembarcar no aeroporto francês, foi surpreendida por agentes de imigração que a detiveram, confiscaram seu aporte e a deportaram de volta a Portugal.
Márcia explicou que estava com a documentação regularizada junto à AIMA, autoridade de imigração portuguesa, que segundo as normas do bloco, lhe permitiria circular pelo Espaço Schengen, incluindo a França. O episódio ocorreu no dia 21 de maio, mas só veio à tona após a pesquisadora publicar um vídeo relatando as 12 horas de tensão que ou nos aeroportos de Paris e de Lisboa.
De volta ao Brasil, agora em São Paulo, ela segue com seus estudos e com a difícil tarefa de processar a experiência traumática. O caso levanta discussões importantes sobre a atuação de autoridades migratórias na Europa e sobre o tratamento dado a estudantes estrangeiros, especialmente mulheres negras.
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