"Não existe pesquisa neutra nem mídia neutra", diz Genoino

247 -  Em participação no programa Bom Dia 247, o ex-deputado federal e ex-presidente do PT, José Genoino, afirmou que as pesquisas de opinião e os grandes veículos de imprensa no Brasil atuam com viés político e cumprem um papel ativo na construção de uma narrativa hostil ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, está em curso uma operação articulada para desgastar o governo e fabricar artificialmente uma nova liderança conservadora que substitua Jair Bolsonaro no espectro da direita. “Estão conduzindo, através de algoritmos, a retirada do Lula da disputa e estão produzindo um bolsonarista sem Bolsonaro”, denunciou.

Genoino apontou o que considera um ciclo perverso e autossustentável entre o noticiário negativo e os resultados das pesquisas. “Mais da metade dos brasileiros não recebem nenhuma notícia positiva do governo Lula. Se as notícias são ruins, a coisa não deve estar boa. Isso se reflete na pesquisa. Aí a pesquisa é ruim, e então dizem que Lula não pode ser candidato. Vem mais notícia ruim. É um circuito”, explicou. Para ele, esse processo não é casual, mas fruto de uma engrenagem que envolve a grande mídia, o mercado financeiro e o centrão político, atuando de forma coordenada para limitar a atuação e a imagem pública do governo. “Há um cerco contra o governo. Se o governo não enfrentar esse cerco com iniciativas políticas e um giro à esquerda na pauta popular, vai ficar refém do sistema”, alertou.

O ex-presidente do PT foi incisivo ao caracterizar a grande imprensa como parte central desse processo. “Essa mídia se especializou no Brasil como uma mídia de combate, partidária, de guerra. A grande mídia é aquilo que o Brizola falava: esses comentaristas são os eunucos do capitalismo monopolista, imperialista.” Ele também criticou o que chamou de ingenuidade de alguns setores do governo, que ainda alimentariam expectativas de relação equilibrada com os veículos tradicionais. “Tem gente do governo que tem ilusão, gosta de uma fonte, gosta de um vazamento. Tem que acabar com essa ingenuidade.”

Genoino defendeu que o Partido dos Trabalhadores adote uma postura mais combativa e assertiva, especialmente no Congresso Nacional. “O PT devia ser mais contundente, mais ativo na disputa dentro da Câmara. Certas coisas não podemos deixar ar em branco.” Rejeitando a tese de que os dados negativos das pesquisas sejam naturais ou apenas reflexo de um momento específico do governo, ele afirmou: “Naturais os dados não são. É um sinal de que o governo precisa fazer uma inflexão.” Para ele, os levantamentos são usados como instrumentos políticos para influenciar a sucessão presidencial e impor limites ao projeto de Lula. “Há uma orientação das pesquisas para retirar o Lula da disputa, para produzir um bolsonarista sem Bolsonaro, para pressionar o governador de São Paulo a ser candidato. E também para alimentar o debate sobre a idade do Lula.”

Encerrando sua análise, Genoino fez um alerta sobre o risco de o governo ser percebido como parte das estruturas tradicionais de poder. “Se a população identifica o governo Lula com o status quo, ele se desgasta. Nós temos que ser contra o status quo. O governo não pode se acomodar. Precisa disputar, enfrentar. Governamos o sistema, mas não somos parte dele”, concluiu. Assista: