Guerra cultural sustenta a extrema direita brasileira, aponta Jandira Feghali
Deputada lança livro “Cultura é Poder” e afirma que disputa de valores estruturada garante influência bolsonarista mesmo fora do governo
247 - A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) criticou duramente a atuação da extrema direita na chamada ‘guerra cultural’ e alertou que esse campo simbólico, muitas vezes ignorado, é o que garante sustentação ao pensamento reacionário no Brasil. Em entrevista concedida à TV 247, Feghali destacou que, embora esteja subestimada no debate público, a cultura é peça estratégica na disputa por hegemonia política e social. A parlamentar lançou nesta semana o livro Cultura é Poder, em que aprofunda esse debate.
“A cultura é um tema subvalorizado, mas estratégico. Cultura é arte, mas não é só isso”, afirmou Feghali. “A arte faz parte dela, os eventos fazem parte, o entretenimento, mas precisamos mergulhar um pouco mais e entender a cultura como um conjunto de significados históricos, de hierarquias sociais construídas, de miscigenações que resultaram em novas possibilidades”, explicou a deputada.
Ela ressaltou que a cultura está diretamente ligada a áreas como ciência, economia e educação, e que negligenciar sua centralidade compromete o desenvolvimento nacional. “Sem cultura, sem conhecimento, sem inovação, sem criatividade a gente não supera a dependência, não supera o subdesenvolvimento e não se afirma como nação”, pontuou. “Se não dermos relevância a esta pauta, não sairemos dos limites da desigualdade e da dependência”.
Feghali observou que os setores organizados da extrema direita têm plena consciência da importância desse território simbólico. “Os líderes [da extrema direita] que planejam esse trabalho têm compreensão disso. Uma boa parte é de uma ignorância absoluta, não sabem nem do que estão falando. Só sabem seguir”, afirmou.
Segundo ela, a extrema direita atua com firmeza na disputa de valores e se utiliza de meios como a comunicação, as escolas cívico-militares e o discurso nas tribunas para impor uma visão de mundo excludente e autoritária. “Eles fazem a disputa de valores, eles usam a comunicação, usam a educação na escola cívico-militar”, afirmou.
Feghali também relembrou como a ditadura militar brasileira articulou uma estrutura cultural que reforçava seus pilares ideológicos. “A ditadura militar fez uma rede de televisão virar nacional para que pudesse integrar o Brasil em uma única visão de segurança, da Lei de Segurança Nacional, de uma visão de Brasil; entrou com a ‘moral e cívica’ na escola, que era para dizer para as crianças o que era o Brasil – na história oficial, não na história real”, criticou. “Ela construiu, planejou uma forma de se sustentar em valores fundamentais. Não adianta só ter os agentes de repressão e a propriedade dos meios de produção se seus valores não estão sustentados na base da sociedade”.
A deputada aponta que os mesmos mecanismos são atualizados atualmente pela extrema direita. “A extrema direita também faz isso. Ela usa bem a comunicação, disputa nas escolas esses valores, disputa nas tribunas, e negam a diversidade, a pluralidade, são racistas, são misóginos, não são laicos – colocam uma única religião dentro do Estado brasileiro”, denunciou.
Para Feghali, mesmo sem ocupar o Executivo federal, os valores difundidos por esses setores seguem enraizados. “Eles mentem sem nenhum escrúpulo, mas eles estruturam uma linha de pensamento, de sustentação dos seus valores, e têm impacto, tanto que eles têm apoio popular até hoje no Brasil, mesmo não estando no governo”, concluiu.
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