Zema, o imbecil e o oportunista

Os artigos masculinos do título acima podem induzir o leitor a imaginar que discorrerei sobre três personagens que, em algum momento da trama, se cruzam. Mas, desde já, informo: não. O imbecil e o oportunista são a mesma pessoa - Romeu Zema, ainda governador de Minas Gerais.

Zema, homem branco, bem-nascido, herdeiro de uma família que construiu seu império à base da usura - vendendo dinheiro em forma de crédito para as famílias mais pobres de Minas, em sua maioria negras - revela-se um imbecil racista ao sair em defesa das piadas de um certo “humorista”. Piadas racistas, machistas, misóginas, homofóbicas, gordofóbicas, capacitistas. Como aquela: “Negro, na época da escravidão, já nascia empregado e ainda achava ruim.” Uma infâmia muito bem denunciada pela deputada estadual Andreia de Jesus, a primeira mulher negra a assumir na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Como um típico imbecil da extrema-direita, Zema ostenta um caráter que mistura cinismo, limitações cognitivas e covardia. Ao afirmar que a ditadura militar trata-se de uma “questão interpretativa” - um regime que matou, torturou e fez desaparecer centenas de brasileiros e brasileiras - Zema dá um tapa na cara das famílias mineiras de Maria da Conceição Ramos, José Geraldo Ferreira, Francisco Paco Lacerda e Dilma Rousseff, para citar apenas alguns nomes de homens e mulheres sequestrados e torturados entre 1964 e 1985.

Mas, como todo imbecil na política que busca constantemente superar a própria indigência moral, Zema agora propõe “guincho” para recolher pessoas em situação de rua. Isso mesmo: como aquelas carrocinhas que diziam transformar cachorros em sabão - ou, para quem conhece um pouco mais de História, como os esquadrões da SS nazista, que vasculhavam casas em busca de judeus para deportar aos campos de concentração.

Zema se comporta como aquele cão oportunista que abana o rabo para agradar o dono. Mas seu servilismo já foi devidamente precificado pelo bolsonarismo. Lamento te informar, Zema, que, mesmo com o teu oportunismo, serás chutado como um guaipeca por um outro imbecil - desses que sentem prazer em chutar animais e abandoná-los à beira da estrada. De nada adiantará liberar o teu pior íntimo: os golpistas, teus amigos de ocasião, não te darão guarida. Te restará, com dificuldade, tentar uma vaga no Senado Federal - isso se, durante a campanha, não vierem à tona as caixas-pretas do teu governo.

Para concluir, um exercício de imaginação: pensemos como Zema e sua família reagiriam à notícia da criação do Guincho da Zema - um caminhãozinho que percorre Minas recolhendo todo manequim ou eletrodoméstico que invada o espaço público das calçadas em frente às lojas da família. Os bens seriam destinados a entidades que acolhem pessoas em situação de rua. Claro que estamos falando de uma novela fantástica. Mas fica a dica. Da história.