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Luis Mauro Filho

Luis Mauro Filho é jornalista, formado em Estudos de Mídia pela Universidade do Wisconsin, e é editor do Brasil 247.

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Trump transforma protestos em campo de batalha e amplia ofensiva autoritária nos EUA

Com envio de tropas a Los Angeles, presidente ignora autoridades locais, rompe o pacto federativo e intensifica confronto com instituições democráticas

Pessoas participam de um protesto contra as varreduras federais de imigração, no centro de Los Angeles, Califórnia, EUA, em 9 de junho de 2025 (Foto: REUTERS/David Ryder)

Los Angeles tornou-se o epicentro de uma nova onda de mobilizações populares contra a política de deportações em massa implementada pelo governo federal dos Estados Unidos nos últimos dias. 

Em resposta direta, o presidente Donald Trump adotou uma postura de confronto institucional ao ordenar, no último fim de semana, o deslocamento de dois mil soldados da Guarda Nacional para a cidade.

Justificando a medida com a alegação de que Los Angeles estaria “invadida por imigrantes ilegais e criminosos”, Trump impôs uma operação militar sem qualquer consulta prévia às autoridades estaduais ou municipais. A decisão representou, de imediato, uma ruptura com os protocolos federativos e provocou reações contundentes de líderes locais.

Reações locais e ruptura federativa

Tanto o governador da Califórnia, Gavin Newsom, quanto a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, denunciaram a medida como uma tentativa deliberada de manipular politicamente uma crise humanitária. Para ambos, o envio das tropas não apenas viola os limites do pacto federativo, como agrava um cenário que, até então, exigia respostas civis e institucionais — e não o emprego de força militar. “Não tínhamos um problema até Trump se envolver”, declarou Newsom.

A escalada não parou por aí. Nesta segunda-feira, o Pentágono confirmou o envio adicional de 700 fuzileiros navais, os Marines, para reforçar a repressão na Costa Oeste. Trata-se de uma mobilização interna de tropas de elite sem respaldo estadual, sinalizando uma inflexão grave nas relações entre governo federal e estados da federação.

Contestação jurídica e dimensão inédita

Diante do avanço da intervenção, o estado da Califórnia reagiu no campo jurídico. O procurador-geral Rob Bonta ingressou com ação na Justiça federal, argumentando que a Constituição só permite o uso federal da Guarda Nacional em casos de rebelião ou invasão — situações que, segundo ele, não se verificam no atual contexto. “O presidente está tentando fabricar o caos e a crise para alcançar objetivos políticos”, afirmou Bonta.

A medida judicial chama atenção por sua natureza excepcional: trata-se da primeira vez, em décadas, que uma intervenção militar em solo estadual ocorre sem o consentimento do governo local, e com motivações amplamente interpretadas como políticas. 

A iniciativa de Bonta busca, portanto, defender o princípio de autonomia dos estados e preservar os mecanismos constitucionais de controle sobre o uso da força federal.

Protestos e repressão como palco de disputa

Nas ruas, a repressão enviada por Trump resultou em prisões sumárias, denúncias de abusos e resistência organizada por comunidades imigrantes. 

O desdobramento da repressão — com uso de gás lacrimogêneo, balas de borracha e detenções em massa — converteu as ruas da cidade em palco de um ime institucional, onde o poder federal tenta impor sua autoridade sobre governos democraticamente eleitos.

Esse episódio, embora grave por si só, deve ser entendido como parte de uma ofensiva mais ampla promovida pela istração Trump contra os pilares do sistema democrático norte-americano.

A ofensiva estratégica de Trump

Desde que reassumiu a presidência, em janeiro, Donald Trump tem conduzido uma série de medidas voltadas à centralização do poder. Nos primeiros meses de mandato, declarou emergência nacional na fronteira com o México, reativou o programa “Remain in Mexico” e estabeleceu metas agressivas de deportação, redirecionando bilhões de dólares para centros de detenção e ampliação das operações do ICE.

Ao mesmo tempo, lançou o “Project 2025”, um plano de reestruturação educacional que prevê o desmonte do Departamento de Educação e a transferência de recursos para iniciativas alinhadas a ideologias conservadoras. 

No campo acadêmico, universidades como Harvard e Columbia aram a ser alvos diretos: perderam verbas federais, foram pressionadas a revisar conteúdos curriculares e viram a liberdade de expressão em seus campi restringida.

Em paralelo, ações como o bloqueio da entrada de estudantes internacionais em Harvard foram interpretadas como medidas punitivas destinadas a sufocar instituições identificadas como críticas ao governo. 

Para especialistas, trata-se de uma tentativa deliberada de disciplinar centros de produção intelectual e limitar a diversidade de pensamento no país.

Blitz institucional e enfraquecimento democrático

Esse conjunto de ações compõe o que analistas têm definido como uma blitz institucional — uma ofensiva de múltiplas frentes, rápida e abrangente, cujo objetivo é enfraquecer os mecanismos de controle democrático e ampliar os poderes do Executivo.

A simultaneidade dos ataques — dirigidos contra universidades, governos estaduais, minorias, imprensa e organismos internacionais — dificulta uma reação coordenada. Mesmo instituições que ainda funcionam como freios, como o Judiciário e alguns governadores, vêm encontrando obstáculos estruturais e políticos para conter o avanço do projeto autoritário.

O Congresso, em sua maioria alinhado ao presidente, aprova suas pautas com facilidade. O Judiciário, ainda que acionado com frequência, enfrenta desafios de composição, agilidade e eficácia. Já a oposição, embora vocal em certos setores, não tem conseguido articular uma resposta institucional robusta.

Los Angeles como ponto de inflexão

A repressão aos protestos em Los Angeles expressa, de maneira ao mesmo tempo simbólica e material, os imes de uma conjuntura política marcada pela erosão de limites institucionais. 

O envio de tropas federais para conter manifestações locais — sem qualquer solicitação ou anuência por parte das autoridades estaduais — rompe com o equilíbrio federativo e desafia diretamente a solidez das garantias constitucionais dos Estados Unidos.

Com a continuidade das mobilizações e o aprofundamento das ações repressivas, o país se vê cada vez mais próximo de uma encruzilhada histórica. A forma como as instituições democráticas reagirem a esse processo determinará não apenas os rumos imediatos da crise, mas também o alcance e a durabilidade do modelo constitucional norte-americano.

Caso prevaleça a escalada autoritária, o cenário que se impõe é o de uma instabilidade prolongada, acompanhada de retrocessos significativos em direitos civis e no funcionamento dos mecanismos de freio e contrapeso — com efeitos que certamente repercutirão além das fronteiras dos EUA, afetando sua credibilidade e liderança no cenário internacional.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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