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Luis Mauro Filho

Luis Mauro Filho é jornalista, formado em Estudos de Mídia pela Universidade do Wisconsin, e é editor do Brasil 247.

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Trump capta trilhões no Golfo, reabilita Síria e vê economia dos EUA sob alerta

Investimentos bilionários no Oriente Médio contrastam com rebaixamento da nota de crédito e queda da confiança do consumidor nos Estados Unidos

Trump discursa em fórum em Riad - 13/05/2025 (Foto: REUTERS/Brian Snyder)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escolheu como primeiro destino internacional de seu segundo mandato uma série de visitas às monarquias do Golfo Pérsico — Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos.

O principal objetivo da turnê foi econômico: captar vultosos investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia americana, como tecnologia, inteligência artificial (IA), energia e aviação. A estratégia teve resultados expressivos: os três países prometeram aportar mais de US$ 1,4 trilhão em projetos nos EUA.

Na Arábia Saudita, Trump conseguiu compromissos de US$ 600 bilhões, superando os US$ 450 bilhões anunciados em sua visita de 2017. Os sauditas destinarão grande parte desses recursos ao setor de IA, com destaque para um investimento de US$ 80 bilhões que alavancou ações de empresas como a Nvidia. No Catar, os acordos somaram US$ 243 bilhões, com foco em energia e infraestrutura tecnológica.

Já os Emirados anunciaram aportes de US$ 200 bilhões, com a expectativa de elevar seus investimentos em energia nos EUA a US$ 440 bilhões até 2035. Também firmaram contratos para aquisição de chips avançados de IA e iniciarão, em parceria com empresas americanas, a construção de um mega campus de inteligência artificial em Abu Dhabi.

Além do setor tecnológico, a aviação também foi contemplada. A companhia Etihad Airways fechou um contrato de US$ 14,5 bilhões com a Boeing para compra de 28 aeronaves widebody. Em termos diplomáticos, a viagem reforça a nova prioridade geopolítica de Trump: relações pragmáticas com regimes ricos e autoritários do Golfo, mesmo que isso signifique afastar-se de aliados históricos como os países da OTAN.

Paralelamente à agenda oficial, chamou atenção a atuação empresarial dos filhos de Trump na mesma região. Eric Trump, por exemplo, esteve em Dubai dias antes da visita presidencial, lançando um novo empreendimento imobiliário: a Trump International Hotel & Tower Dubai.

Nos Emirados, a família Trump também conseguiu um aporte de US$ 2 bilhões para seu projeto de criptomoeda, enquanto no Catar Eric fechou um acordo de US$ 5,5 bilhões para desenvolver um mega clube de golfe.

Na Arábia Saudita, os Trump mantêm projetos imobiliários e eventos esportivos patrocinados pelo fundo soberano local. A simultaneidade entre negócios privados da família e decisões públicas da presidência levanta suspeitas de conflito de interesses, segundo analistas.

Trump e a Síria

Outro ponto central da viagem foi a surpreendente decisão de Trump de encerrar as sanções americanas contra a Síria. O gesto atendeu a um pedido do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman (MBS), e teve como contrapartida o reconhecimento informal do novo governo interino sírio, liderado por Ahmed al-Sharaa.

Ex-líder do grupo jihadista Tahrir al-Sham, Sharaa representa um governo de raízes islamistas. Apesar disso, seu discurso moderado e disposição para normalizar relações com o Ocidente vêm mudando a percepção sobre sua figura.

O novo governo sírio ofereceu benefícios diretos a Trump: a construção de uma Trump Tower em Damasco e contratos preferenciais de exploração de petróleo e gás por empresas americanas.

Após o anúncio do fim das sanções, empresas estrangeiras já começaram a negociar investimentos na Síria, como a DP World, que pretende investir US$ 800 milhões no porto de Tartus. A reinserção de Damasco no cenário internacional é vista com preocupação por aliados tradicionais dos EUA, especialmente Israel, que não foi consultado sobre a medida e desconfia das intenções do novo governo sírio.

Alerta ligado para a economia dos EUA

Internamente, as políticas econômicas e diplomáticas de Trump vêm gerando tensões. Na última sexta-feira, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota de crédito dos Estados Unidos de AAA para Aa1, citando o aumento da dívida pública e a instabilidade política.

A decisão provocou reações nos mercados, com alta dos juros dos títulos do Tesouro, e abriu nova frente de críticas ao governo. Parlamentares democratas responsabilizaram as propostas de cortes de impostos para os super-ricos por pressionarem ainda mais o déficit fiscal.

Além disso, a confiança do consumidor nos EUA caiu significativamente. O índice da Universidade de Michigan recuou para 50,8 pontos, o menor nível em quase três anos. A deterioração das expectativas é atribuída à alta da inflação, aos conflitos fiscais em Washington e à retomada de uma guerra tarifária com a China.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) também revisou para baixo suas projeções de crescimento do PIB americano, estimando agora alta de 1,8% em 2025, com risco crescente de recessão.

Em suma, Trump aposta num modelo de relações internacionais altamente transacional: em troca de investimentos vultosos, cede espaço diplomático a regimes autoritários e, como no caso da Síria, ajuda a reabilitar governos de histórico radical. Esse pragmatismo pode gerar ganhos de curto prazo, mas apresenta riscos consideráveis.

No cenário doméstico, a conjunção entre populismo fiscal, guerra comercial e incertezas políticas começa a minar a credibilidade econômica dos EUA. Assim, o segundo mandato de Trump caminha para ser definido por uma dualidade: de um lado, capta recursos trilionários no exterior; de outro, enfrenta crescente desconfiança interna e sinais de fragilidade econômica.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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