Street Geology
Street geology propõe nova forma de observar a cidade pelo olhar da geologia
Para que o pomposo título Street Geology do presente texto não se enquadre no espírito da canção “Qualquer Coisa”, do álbum homônimo de 1975, de Caetano Veloso — “Esse papo já tá qualquer coisa / Você já tá pra lá de Marrakesh / Mexe qualquer coisa dentro, doida / Já qualquer coisa, doida, dentro mexe” —, vamos tentar explicar do que se trata.
Street Geology, ou Geologia de Rua, é uma prática ível a qualquer pessoa interessada em compreender melhor a cidade em que vive. Basta caminhar por ruas e avenidas do bairro, observar o entorno e notar as transformações do ambiente urbano, causadas principalmente pela ocupação humana. Um exemplo pode ser observado no Rio Grande de Ubatuba, na Ilha dos Pescadores, Centro de Ubatuba, cerca de 400 metros da sua foz no Farol do Cruzeiro, onde, em março de 2025, com a maré relativamente baixa, percebe-se o impacto das edificações sobre uma área extremamente sensível do ambiente flúvio-marinho.
Nesse contexto, trabalhos de campo realizados com estudantes do ensino médio de escolas públicas e também com universitários podem revelar, mesmo em um mundo saturado de informações digitais e celulares multifuncionais, aspectos concretos da realidade ambiental em que vivem. A literatura científica já registra diversos estudos sobre esse tipo de atividade prática na área da Geologia. Alguns desses trabalhos, com os quais há envolvimento pessoal, serão mencionados a seguir, com destaque para os títulos dos artigos publicados à época.
O artigo “Educação Ambiental no Campo” [1] relatava atividades desenvolvidas na disciplina “Educação Ambiental”, ministrada em 1987 na Escola Municipal de 1º Grau Padre Anchieta, em Ubatuba (SP). O texto afirmava que: “Observar a natureza, suas transformações, entender o presente e reconstituir o ado envolve a compreensão do meio natural, a interação homem/natureza e as necessidades que o levam a se apropriar dela e planificar a ocupação do seu espaço.”
Já “Sobre a prática de campo” [2], publicado em janeiro de 2008, chamava atenção para o município de Ribeirão Preto (SP), abastecido integralmente por águas subterrâneas do Aquífero Guarani, e afirmava: “(...) é um prato cheio para as observações, entendimento e compreensão do meio ambiente. Para isso, o primeiro o seria o envio de técnicos dos setores específicos para o trabalho de campo, deixando de lado muitas vezes suas atividades cartoriais dos gabinetes. A superexploração do Aquífero Guarani, as enchentes urbanas, a monocultura da cana-de-açúcar são alguns dos problemas que merecem uma atenção especial e, principalmente, nos locais mais afetados, junto da comunidade envolvida.”
O estudo “Aquífero Guarani: um retrato 3x4 de gestão e da experiência com estudantes em Ribeirão Preto (SP)” [3], também de 2008, destacou que: “Experiências locais de gestão do Aquífero Guarani e trabalhos desenvolvidos com estudantes no município de Ribeirão Preto (SP) visam enfrentar os desafios relacionados à melhor compreensão da qualidade e da quantidade de água desse mega-reservatório. Ribeirão Preto é uma área-piloto para estudo detalhado do Aquífero Guarani, em função do acelerado crescimento urbano e da intensificação das atividades agrícolas e industriais.”
Por fim, o artigo “A disciplina de geologia urbana: uma proposta prática de aprendizado” [4], publicado em 2011, relatava a experiência do curso de Geologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp): “Este trabalho apresenta uma proposta de aprendizado aplicada na disciplina de Geologia Urbana oferecida pelo curso de Geologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) aos estudantes do 5º ano, com ênfase nos trabalhos de campo. Pelo tipo de abordagem adotada ao longo do semestre, a disciplina visa despertar nos estudantes uma consciência crítica da futura profissão de geólogo e qual a sua função social. Para cada tema do programa foi montada uma aula teórica, seguida de visita de campo e finalizada com uma oficina.”
Diante do exposto, reforça-se que Street Geology ou Geologia de Rua é uma atividade de campo ível a qualquer pessoa ou estudante, com o propósito de compreender melhor o ambiente em que se vive, suas benfeitorias, possíveis intervenções e até eventuais desconfortos. Encerramos com um verso da bela canção “Terra”, de 1978, também de Caetano Veloso, citada na abertura deste texto:
“Terra / Terra / Por mais distante o errante navegante / Quem jamais te esqueceria”
Referências
[1] “Educação Ambiental no Campo” artigo de Heraldo Campos de junho de 1987, publicado no Jornal Eco Ubatubense.[2] “Sobre a prática de campo” artigo de Heraldo Campos de 08 de janeiro de 2008, publicada no e-book Por onde a água a – coletânea de artigos de 2019, que pode ser ado, gratuitamente, através do Sistema de Bibliotecas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), nesta direção a seguir, escrevendo Heraldo Campos no campo Pesquisar: https://acervus.unicamp.br/Resultado/Listar?guid=1730017507822
[3] “Aqüífero Guarani: um retrato 3x4 de gestão e da experiência com estudantes em Ribeirão Preto (SP)” artigo de Heraldo Cavalheiro Navajas Sampaio Campos & Maria Bernadete de Siqueira Canesin de 2008, publicado na Revista Terræ Didatica, 3(1):74-85, e que pode ser ado pela direção http://www.ige.unicamp.br/terraedidatica/
[4] “A disciplina de geologia urbana: uma proposta prática de aprendizado” artigo de Sueli Yoshinaga Pereira, Pedro Wagner Gonçalves e Heraldo Cavalheiro Navajas Sampaio Campos de 2011, publicado na Revista Terræ Didatica, 7(1):49 57, e que pode ser ado pela direção http://www.ige.unicamp.br/terraedidatica/
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