window.dataLayer = window.dataLayer || []; window.dataLayer.push({ 'event': 'author_view', 'author': 'Ricardo Queiroz Pinheiro', 'page_url': '/blog/neoliberal-ser-ou-nao-ser' });
Ricardo Queiroz Pinheiro avatar

Ricardo Queiroz Pinheiro

Bibliotecário e pesquisador, militante do livro e leitura, doutorando em Ciências Humanas e Sociais (UFABC)

21 artigos

HOME > blog

Neoliberal: ser ou não ser

Tem gente batendo nessa tecla como se fosse mágica, acham que, carimbando isso, empurram o governo mais para a esquerda no grito

19.03.2025 - Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia de Inauguração da Barragem de Oiticica, em Jucurutu-RN (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

O debate está aí: governo Lula é ou não neoliberal?

Tem gente batendo nessa tecla como se fosse mágica, acham que, carimbando isso, empurram o governo mais para a esquerda no grito.

Só que, enquanto ficam nesse papo, esquecem de olhar para o que está vindo no retrovisor.

O governo Lula, desde 2003, sempre se colocou como, no máximo, reformista.

Com todas as contradições, dentro das diversas conjunturas e ataques que enfrentou, sempre tentou segurar o básico: preservar direitos, travar a pauta ultraliberal.

Agora, se você acha que foi ou está ruim, imagina o que vem se o outro lado levar.

Aí não vai ter nem onde nem o quê segurar.

Voltemos na história um pouquinho.

Vamos para o Chile em 73.

Pinochet derruba Allende, tanque na rua, gente sumindo.

Mas não era só ditadura, era laboratório.

Chicago Boys chegam, vendem tudo, cortam direitos, desmancham sindicatos.

Para eles, “liberdade” é o mercado mandando e o povo calado.

Esse modelo rodou o mundo.

Virou moda com Reagan, Thatcher, FMI.

Repetiram a fórmula: privatiza, desregulamenta, precariza, e, quem reclamar, polícia em cima.

Hoje, o experimento voltou com cara nova.

Milei na Argentina, Bukele em El Salvador, Orbán na Hungria.

Milei faz discurso de doido, grita, xinga, fala que vai destruir o “sistema”.

Mas o plano é velho: vender tudo, acabar com direito trabalhista, extinguir ministérios, colocar servidor e aposentado na parede, deixar o povo à míngua e correr para o colo do FMI.

Quem sobra que aguente.

Bukele é o quê? Neoliberalismo com Wi-Fi e cercadinho digital.

Faz pose de moderninho, aposta em Bitcoin, mas no fundo entrega o mesmo pacote: militarização nas ruas, vigilância total, censura embalada de "ordem" e um Estado que some na hora de garantir direito, mas aparece forte para prender e controlar.

O pobre que se vire, a polícia e o algoritmo resolvem o resto.

Orbán? Outro modelo testado.

Prega conservadorismo, “valores tradicionais”, fala contra o globalismo, enquanto desmonta imprensa livre, aparelha o Judiciário, concentra poder, entrega pedaços da economia para os aliados.

Combina neoliberalismo econômico com autoritarismo político.

Resultado: direitos civis sufocados, oposição esvaziada e o povo controlado entre polícia e propaganda.

E vocês acham difícil que isso não aconteça por aqui de forma radical?

Quem para um governo autoritário ultraliberal? O STF? O MP? As massas que a esquerda de verdade está mobilizando (por que não está)?

Porque é isso que a direita e a extrema-direita estão cozinhando.

E, diferente do que dizem, não é mais do mesmo, não é "aquela conversa de novo".

Não é o que eu quero ou que você quer.

É radicalização pesada.

E não é só local. Tem interesse externo jogando pesado nisso.

Para não dizer que não falei do Trump e seus aliados, já deixaram claro: querem a direita de volta no Brasil, não só por ideologia, mas para enfraquecer os BRICS, travar qualquer projeto de soberania no Sul Global.

Pode cobrar o governo, criticar, pressionar. Normal.

Mas se ajudar a abrir caminho para esses caras, depois não adianta chorar.

O Chile ensinou.

Milei, Bukele, Orbán estão aí mostrando.

E se você acha que esse é o raciocínio falacioso de um lulista fanático, para sua infelicidade, devo dizer que você está enganado. Eu posso estar equivocado, mas não por fanatismo e cegueira.

É só alguém que olha para o tabuleiro inteiro e tenta reconhecer quando o risco é maior do que a birra.

A pergunta continua: vamos deixar o Brasil virar mais um laboratório?

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Cortes 247

Carregando anúncios...
Carregando anúncios...