Hasta la vista, Pepe Mujica!
Uma das figuras mais intrigantes deste século, Mujica é pouco exaltado por causa dos grandes interesses comerciais mundiais
A notícia da morte do ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, apesar de estar em estado terminal, foi difícil de acreditar, afinal, vários posts fakes no ado anunciavam esse amento. Quem nunca caiu em um desses fakes e postou essa morte com tristeza? Só que dessa vez é verdade. Morre o revolucionário calmo que transformou o Uruguai sem mudar sua essência. Nos anos 60, foi membro do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, grupo Marxista-leninista de guerrilha urbana de extrema esquerda, com inspiração na Revolução Cubana, durante a ditadura no Uruguai.
Mujica se projetou mundialmente com seu estilo de vida contra o consumismo e de liberdade com integração à natureza. Ele não vivia com pobreza e sim com austeridade, com renúncia. Dizia que vivíamos em uma montanha de consumo supérfluo que acabava comprando e descartando. Talvez por isso, até as relações emocionais dos jovens tenham esse perfil nos dias de hoje. Eles conhecem alguém superficialmente e logo depois descartam. Uma vida que desprezava o luxo. Certa vez, em um mandato de Lula, recepcionou como chefe de Estado com seu Fusquinha 68. Uma das figuras mais intrigantes deste século, é pouco exaltado por causa dos grandes interesses comerciais mundiais. Como dentro do campo de joio e trigo, devemos falar sobre o trigo, recomendo o livro ‘Una oveja negra al poder’, dos jornalistas Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz.
Um mundo materialista ao extremo se curvou ao seu modo de vida. Morava em uma chácara em Rincón del Cerro, onde plantava flores e hortaliças. Talvez por isso, tinha dois cérebros ativos. Usava e abusava da teoria do cérebro no intestino ou eixo intestino-cérebro, que age como um segundo cérebro. Se pensar bem, é o primeiro cérebro, afinal como organismo primitivo tínhamos apenas isso e quando partimos para a vida complexa adquirimos o segundo cérebro. Esta segunda ajudou para situações como caçar, atear fogo, criar a roda, arranjar um par e lembrar se fechamos a porta do carro.
Foi um dos maiores políticos da história da América Latina, irado pela esquerda e pela direita. Um ser humano muito digno e simples, que usava bermuda e sandálias em eventos oficiais de ministros. Dizia que a vida não é só trabalho, tinha que ter espaço para deixar um bom capítulo naquilo em que os desejos humanos precisam para se sentirem pertencentes ao mundo. Remar todo dia, escalar uma montanha, andar todo sertão veredas, escrever um livro. Essas coisas que motivam o ser humano devem ter seu espaço na vida. Se você se apaixona por alguém, deve ter tempo para expressar esse amor, perdendo tempo cozinhando um almoço, trocando juras eternas e se acabando na cama.
Talvez por isso, deixou que o processo de liberdade para todos fossem ganhos sociais, como suas reformas progressistas através da legalização da maconha, casamento LGBTQIA+, legalização do aborto, levou a economia a um crescimento de uma média anual de 5,4%, o índice de pobreza reduziu, e o desemprego ficou em níveis muito baixos. Seu compromisso foi com os mais desvalidos e vivia o que falava. Trazer algum sentido para essa vida. Ele levou essa ideia para a política. E com isso, para as políticas públicas. Para que possamos mudar o mundo em que vivemos, para que você não gaste seu tempo enriquecendo os grandes capitalistas e se enriqueça de experiências de vida, de esperanças e de liberdade.
Adiós, Pepe. Vaya con Dios.
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