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Luis Mauro Filho

Luis Mauro Filho é jornalista, formado em Estudos de Mídia pela Universidade do Wisconsin, e é editor do Brasil 247.

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Está cada vez mais caro e arriscado investir no governo dos EUA. Para onde o mercado irá?

Déficit pode crescer US$ 4 trilhões e juros da dívida já superam gastos com defesa; investidores se voltam para China, Brasil e outros emergentes

Presidente dos EUA, Donald Trump, fala enquanto assina decretos no Salão Oval da Casa Branca, em Washington - 09/04/2025 (Foto: REUTERS/Nathan Howard)

O mercado global vive um momento de crescente desconfiança em relação à sustentabilidade da dívida pública dos Estados Unidos. A inquietação se intensificou com o avanço, no Congresso norte-americano, de um novo pacote fiscal proposto pelo presidente Donald Trump — atualmente em seu segundo mandato — que prevê cortes de impostos para os mais ricos e para grandes corporações, ao mesmo tempo em que reduz o alcance de programas de assistência social. A medida deve adicionar cerca de US$ 4 trilhões ao já elevado déficit fiscal do país.

Atualmente, a dívida pública dos EUA ultraa US$ 36 trilhões, ou mais de 120% do PIB. O aumento do endividamento e a ausência de medidas de contenção fiscal têm levado os investidores a exigir rendimentos maiores para continuar financiando o Tesouro norte-americano. O título público de 30 anos superou os 5% ao ano — o maior patamar em quase duas décadas — um sinal claro de que os mercados estão cobrando prêmios de risco maiores.

Autoridades do próprio Federal Reserve, como Christopher Waller, reconhecem o desconforto do mercado, afirmando que esperava-se mais responsabilidade fiscal. O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) prevê que o pacote de Trump somará US$ 2,4 trilhões à dívida até 2034. Os juros da dívida já consomem anualmente US$ 881 bilhões — mais do que o orçamento do Departamento de Defesa ou do programa Medicare.

O cenário atual é reflexo de uma transformação estrutural da economia americana. Nas últimas décadas, os EUA optaram por uma estratégia de crescimento baseada na financeirização, na qual a expansão é sustentada pela emissão de títulos públicos (bonds). Essa abordagem gerou um mercado robusto e líquido, visto como o mais seguro do mundo. No entanto, o cenário mudou: os fundamentos econômicos do país se deterioraram, e os investidores começam a questionar se os EUA continuarão sendo o principal porto seguro do sistema financeiro internacional.

Outro fator de instabilidade, mais recente vem das recentes medidas protecionistas adotadas pelo governo Trump. O tarifaço de 10% sobre todas as importações, afetando aliados históricos como Alemanha e Japão. Itens específicos, especialmente produtos chineses, foram taxados em até 145%. A medida causou preocupação entre parceiros comerciais, levando países como a Alemanha a preverem anos consecutivos de recessão, com queda nas exportações industriais.

A resposta de aliados tem sido de afastamento e reconfiguração das alianças econômicas. O Japão, maior detentor de títulos da dívida americana, tem diversificado seus investimentos, priorizando ativos domésticos. O rendimento dos títulos públicos japoneses atingiu 3,18%, um recorde histórico. A desvalorização do dólar, que acumula queda de cerca de 7% no ano, também reflete a fuga de capitais dos EUA.

Ataques ao setor acadêmico afasta cientistas

A instabilidade interna se aprofunda com a crise no setor universitário norte-americano. O governo Trump promoveu cortes em verbas federais para universidades, além de medidas ideológicas contra programas de diversidade. A repressão à ciência e o endurecimento das regras de imigração têm incentivado a evasão de cérebros. Países como Canadá, França e Alemanha lançaram iniciativas para atrair pesquisadores afetados pelas restrições nos EUA. A China também se beneficia do contexto: repatria talentos e investe pesadamente em inovação e infraestrutura científica.

O capital global mudará seu foco?

Diante desse quadro, o capital global começa a migrar para mercados emergentes. Países da Ásia — como Índia, Indonésia e Vietnã — ganham destaque por sua demografia jovem, urbanização acelerada e necessidade de infraestrutura. O Brasil, por sua vez, subiu ao quarto lugar no ranking de atratividade de investimento direto estrangeiro, atrás apenas de China, Emirados Árabes e Arábia Saudita. O país é visto como um destino promissor graças ao seu mercado interno e a expectativas de estabilidade política e regulatória.

Instituições financeiras internacionais, como o Morgan Stanley, elevaram suas recomendações para ativos brasileiros e indianos. Ao mesmo tempo, ativos dos EUA aram a ser avaliados com mais cautela. A preferência do investidor global a a ser por retornos consistentes e menor exposição a riscos fiscais e geopolíticos.

A China, aproveitando o momento, aprovou uma nova Lei de Promoção do Setor Privado, demonstrando comprometimento com a abertura econômica e o apoio à iniciativa privada. A medida busca reforçar a confiança dos investidores, com garantias jurídicas e estímulos ao empreendedorismo. Segundo especialistas chineses, a legislação fortalece a posição do país como âncora de estabilidade em meio à volatilidade internacional.

As consequências desse rearranjo são profundas. O FMI revisou para baixo suas projeções de crescimento global, e o Citigroup estima 60% de probabilidade de uma recessão mundial nos próximos 12 meses. A crise fiscal e a escalada protecionista dos EUA são apontadas como os principais fatores de risco.

A hegemonia do dólar, embora ainda vigente, sofre pressão. Investidores e governos começam a diversificar suas reservas e fluxos comerciais. O sistema geoeconômico internacional, outrora centrado nos EUA, dá sinais de descentralização, com os BRICS e outros blocos regionais ganhando relevância.

Em síntese, os sinais são claros: o mercado financeiro global está em transição. A confiança nos ativos americanos diminui, enquanto emergentes ganham espaço como alternativas de investimento. A política fiscal dos EUA, marcada por déficits crescentes, cortes de impostos regressivos e medidas protecionistas, gera incerteza. A inovação, motor do crescimento, também perde vigor com o enfraquecimento do setor universitário.

Resta saber como Washington reagirá. Até o momento, a resposta tem sido errática. Embora o governo tenha anunciado uma trégua tarifária de 90 dias, não há sinal de revisão estrutural da política fiscal. O risco de uma recessão americana com impactos globais permanece real. E para os investidores, a lição que fica é que a nova geoeconomia exigirá adaptação: a era da dominância absoluta do dólar e dos títulos do Tesouro dos EUA parece estar ficando para trás.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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