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Oliveiros Marques

Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

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É preciso olhar para os legendários

Pode estar aí a gênese de um novo movimento político extremista

Grupo denominado "legendários" (Foto: Reprodução/YouTube/Legendários Brasil Oficial)

O movimento dos camisas laranjas - séquitos de homens que sobem a montanha com o argumento de buscar a descoberta de como “prover sua família” -, os Legendários, tem ocupado espaço crescente na imprensa e nas redes sociais. Chama atenção o fato de esses homens, em sua esmagadora maioria brancos e “bem-nascidos”, desembolsarem quantias que variam de R$ 3 mil a R$ 80 mil para participar de encontros que duram um fim de semana e que, tal qual em Las Vegas, seguem a máxima: tudo o que acontece na montanha, fica na montanha. Um tipo de sociedade secreta de tons contemporâneos.

Contudo, ao observar o comportamento desse grupo - sim, às vezes eles descem da montanha e se encontram na planície, talvez para relembrar os momentos mágicos compartilhados lá no alto -, é possível perceber semelhanças com outros movimentos da história brasileira. Movimentos também compostos exclusivamente por homens e que tinham nas cores de suas camisas um elemento identitário distintivo.

Um deles foi a Legião de Outubro, ou os camisas cáqui. De inspiração fascista, o grupo surgiu em 1932, idealizado e liderado por Francisco Campos, então jurista influente, ministro da Justiça de Vargas durante o Estado Novo e redator da Constituição de 1937 - também conhecida como “Polaca”, por sua inspiração autoritária na Carta da Polônia de 1935. Autor da célebre frase “o regime político das massas é o da ditadura”, Campos construiu, com a Legião, uma milícia paramilitar composta por membros da elite e por jovens das camadas médias urbanas. A proposta era preparar o terreno para a implantação de um Estado autoritário centralizado, moldado nos princípios do corporativismo e do nacionalismo orgânico.

Outro movimento foi o dos camisas verdes, como ficaram conhecidos os membros da Ação Integralista Brasileira (AIB), liderada por Plínio Salgado. Fundado em 1932, o integralismo misturava elementos do fascismo europeu com uma forte retórica nacionalista, religiosa e anticomunista. Sua estética imitava as milícias de Mussolini, com saudações à moda romana (“Anauê!”) e rígida disciplina hierárquica. Defendia um governo central forte, a eliminação dos partidos políticos, o controle social e o culto à figura do líder - tudo amparado por uma narrativa moralista e messiânica. Em 1938, os integralistas tentaram um golpe contra Vargas, mas foram duramente reprimidos após o fracasso da intentona.

Como já disse outras vezes neste espaço: não que eu acredite em bruxas, mas que elas existem, ah, sim, existem. Ao observarmos os elementos de discurso e de comportamento dos três movimentos, torna-se evidente que há vários pontos de intersecção entre eles: a exclusividade masculina, o uso de cores como símbolo de pertencimento, a lógica de iniciação, o discurso regenerador baseado na “crise do homem moderno”, e, principalmente, a tentativa de formação de uma elite salvadora da pátria, ungida por algum tipo de superioridade espiritual ou moral.

Está na hora de começarmos a olhar para os Legendários para além da caricatura de um bando de homens em busca do “seu melhor eu” no alto da montanha. Pode estar aí a gênese de um novo movimento político extremista - que, como todos os movimentos desse tipo, cresce à sombra do desprezo e da indiferença.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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