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Ameaças à reeleição do Lula

O governo perdeu aprovação nos segmentos tradicionalmente eleitores do presidente Lula e do PT, escreve Jeferson Miola

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

As pesquisas mostram uma tendência persistente de desaprovação e perda de credibilidade do governo Lula

Esta tendência ganhou maior tração em dezembro ado devido ao desgaste com a ofensiva desinformativa da extrema-direita sobre o PIX.

No entanto, o início desse processo desfavorável ao governo teve início bem antes. Diferentes pesquisas, inclusive aquelas contratadas pelo governo, há muito mostravam que a lua-de-mel da população com o governo começou acabar precocemente, a partir de agosto de 2023, com apenas oito meses de mandato.

A derrota impactante da esquerda na eleição municipal de 2024 pode ser entendida como reflexo desse fenômeno. Houve deslocamento de eleitores tradicionalmente lulistas em direção a candidaturas bolsonaristas, antipetistas e oposicionistas.

Isso ocorreu mesmo com os resultados bastante positivos da economia, como o crescimento do PIB acima das melhores previsões, o aumento do emprego e da renda, e a reconstrução acelerada das políticas públicas destruídas no período fascista-militar com Bolsonaro.

A pesquisa Quaest publicada em 5/6 permite enxergar esta realidade em perspectiva. O índice de desaprovação do governo [vetor verde do gráfico] que em agosto de 2023 era de 35%, alcançou 57% em maio de 2025, ao o que a aprovação [vetor laranja], situada no patamar de 60% em agosto de 2023, desabou para 40% em maio de 2025:

grafico

Esse processo não teve um desenvolvimento linear. Alternou algumas conjunturas de pequenas oscilações e consolidou a piora de trajetória a partir de dezembro.

O governo perdeu aprovação nos segmentos tradicionalmente eleitores do presidente Lula e do PT, como o eleitorado feminino e do Nordeste, pessoas não-brancas, de baixas renda e escolaridade e beneficiários do Bolsa Família:

tabela

Fossem outros os tempos, com todas as realizações desse terceiro mandato, Lula certamente teria índices de aprovação próximos aos 87% de quando deixou o Planalto em 2010.

A realidade, no entanto, é outra. E no mundo inteiro, não só no Brasil.

A paciência com governos recém eleitos dura pouco, e predominam expectativas de mudanças rápidas para aplacar a barbárie social e existencial causada pelo neoliberalismo. Isso ainda é agravado em contextos de polarização ideológica e de grande confrontação política.

Hoje as pessoas já não se contentam com o que o governo oferece como se contentavam no ado, porque acumulam décadas de espera de melhoria real da vida que não nunca chega.

Diferentes pesquisas mostram que agosto de 2023 foi o mês em que os índices favoráveis ao governo Lula atingiram o maior patamar [60%] e os desfavoráveis tiveram a menor pontuação [35%]. Representou o fim do ciclo de namoro pós-eleitoral.

A partir daí, a tendência foi constante em dois sentidos: [1] do aumento da desaprovação, que atingiu 57% em junho/25, e [2] de queda da aprovação, que ficou situada em 40% [Quaest].

Apesar do crescimento do PIB dentre os maiores do mundo, a percepção das pessoas é menos otimista, porque o desempenho da economia não se reflete em mudança estrutural da situação de vida difícil da imensa maioria da população brasileira [mais de 70%] que sobrevive com até dois salários mínimos no mês.

O sentimento de insatisfação com as dificuldades da vida cotidiana prepondera sobre o sentimento de satisfação, como mostram os dados da Quaest:

tabela

Com o governo Lula o salário mínimo voltou a aumentar acima da inflação, o desemprego atingiu o nível mais baixo da história e a renda dos mais pobres aumentou via trabalho, emprego e benefícios sociais. 

Isso tudo, no entanto, não é capaz de modificar substancialmente o mau humor que no fundo é mais em relação ao sistema [capitalismo/neoliberalismo] do que com o governo de turno, que acaba sendo depositário da frustração e indignação das pessoas, por motivos compreensíveis.

O salário mínimo necessário para uma família de quatro pessoas, que segundo o DIEESE deveria ser de R$ 7.638,62 em abril/25, é cinco vezes menor.

Só para comprar os alimentos da cesta básica, o trabalhador que sobrevive com um salário mínimo de R$ 1.518 gasta em média cerca de R$ 683, quase a metade, afora os demais gastos com moradia, remédios, vestuário, transporte de péssima qualidade etc.

O governo criou linhas de crédito consignado no setor privado. Porém, segundo a Serasa, 70 milhões de brasileiros –42% dos adultos do país– estavam inadimplentes em abril.

Isso significa que milhões de famílias estão cronicamente endividadas não para aumentar o patrimônio ou adquirir bens duráveis, mas para custear o consumo básico e cotidiano, uma vez que sobram dias do mês depois do fim de um salário absolutamente irrisório.

O desalento e a descrença no futuro marcam gerações ameaçadas de viverem em condições materiais piores que as de seus anteados.

A situação econômica positiva do Brasil não consegue aplacar o mal-estar difuso de grandes parcelas da população, na sua maioria pobre, que leva uma vida invivível e privada de condições mínimas de dignidade enquanto a oligarquia dominante fica ainda mais obscenamente rica parasitando o Estado.

O governo Lula, por mais significativo que seja o processo de reversão da catástrofe herdada do bolsonarismo, acaba sendo destinatário desse sentimento de decepção que é catalisado pela extrema-direita.

Faltam pouco menos que 16 meses para a eleição de 2026. Não é muito tempo, mas ainda é um tempo viável para o presidente Lula reverter a persistente perda de popularidade e de credibilidade e se reeleger.

Arno Augustin, ex-Secretário do Tesouro Nacional dos governos Lula e Dilma, lembrou que para a disputa da reeleição de 2006, Lula reorientou a política econômica no segundo semestre de 2005. E pode fazê-lo novamente agora, no segundo semestre de 2025.

A agenda de cortes e contingenciamentos vai na contramão da necessidade urgente de melhorar a percepção das pessoas sobre o governo com políticas que gerem sensação concreta de bem-estar comum em substituição ao mal-estar difuso imposto pelo neoliberalismo.

O Congresso de maioria direitista e extremista deixou claro que fará de tudo para asfixiar o governo Lula, impedí-lo de executar o programa eleito pela soberania popular em 2022, e obrigá-lo a promover o austericídio para, desse modo, suicidar-se.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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